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Artigos | Observações & Experiências (476)

Joseph, Howard S. | 31.12.2006

Humildade: A Ética da Fé

Rábi Howard S. Joseph

Na tradição judaica, humildade é qualidade que inclui a extensão cheia do contínuo de modéstia a auto-estima. Há razão boa para essa virtude e aquilo que chamo de “humildade teológica” para ocupar um papel importante na vida religiosa. De fato, uma das feições alarmantes de muita religiosidade contemporânea é a ausência de humildade. Isso está freqüentemente visto no fanatismo auto-reto ou retirada igualmente auto-reta do mundo de assuntos humanos.

*****

Aqueles que estão expostos à multiplicidade de fés e estilos de vida no mundo moderno devem alcançar um modo de viver com a questão de universalismo versus particularismo. O desafio espiritual e intelectual mais difícil que encaramos é a questão de verdade implicada nesse assunto: se a minha religião for verdadeira, absolutamente verdadeira, o quê então é o status de outras religiões e das fés dos seus aderentes de que as suas fés sejam verdadeiras, absolutamente verdadeiras.

Muitas vezes ignoramos ou reprimimos o assunto, ou simplesmente adotamos a posição democrática de tolerância que se espera numa sociedade aberta e livre. Isso pode ser uma posição satisfatória em muitos assuntos; mas, quando vem à religião, com escolhas de Deus e não nossas, a questão de ou-ou parece mais premente. Religiões e crentes tendem lidar com absolutos. No melhor, alguém possa chegar a percepção de que a questão de verdades religiosas plurais embutida em religiões múltiplas façam parte do mistério de fé. Haverá alguma estrutura conceitual que nos possa levar em diante – para além de mistério e tolerância referente à afirmação religiosa de outras fés

*****

A visão prevalecente de judeus referente a outras religiões era que estas são falsas. Apesar dessa visão geral, judeus apreciavam que os dois grupos religiosos primários entre os quais viviam, cristãos e moslins, tinham mesmo algum relacionamento à religião verdadeira na proporção em que emprestavam e perpetuavam ensinamentos bíblicos sobre Deus e comportamento humano.1

Um critério para a verdade dum sistema religioso poderia ser a própria humildade teológica, um reconhecimento auto-crítico da natureza finita de qualquer entendimento humano do divino. Assim, qualquer um modo é justamente esse. Reivindicar qualquer coisa a mais seria infiel à experiência religiosa fundacional.
Crentes podem alcançar isso? Devem asseverar a superioridade da sua perspectiva sobre outros? Devem reivindicar validade universal das suas crenças e procurar as impor em outros? Devem crer que, a fim de o seu sistema seja verdadeiro, este deva ser verdadeiro para todos e não só para eles mesmos? Essa visão foi mantida sob circunstâncias de opressão e humilhação e negação da legitimidade ao Judaísmo como uma religião que tinha sido substituída por outras. Relembrando o contexto nos vai capacitar a apreciar que essa atitude esteja mais notavelmente generosa do que poderíamos pensar de outra maneira.

Assim, Islame e Cristandade foram creditados com ajudar para remover idolatria da terra e os excessos de violência e imoralidade associados com idolatria nos olhos da Bíblia. Também espalhavam a idéia de Deus como o Criador e dador da Toráh e dos mandamentos, e preparam a terra para a vinda verdadeira do Messiáh. Naquele tempo, as interpretações falsas da doutrina judaica serão esclarecidas. Entrementes, a esperança está sendo muitas vezes expressa de que os crentes individuais nessas fés vivam na altura do código religioso e moral que derivaram da Toráh. Por vezes, esse código esta sendo chamado de os Sete Mandamentos de Noé, que lhe foram dados depois do dilúvio para segurar que os humanos nunca mais descessem para o nível ante-diluvial de violência e imoralidade. De fato, há tais que já estão sendo considerados entre os retos ou piedosos das nações, tsdikey ou haçidey há-olam.

Pensadores judaicos importantes como Maimônides e outros articularam essa visão durante toda a Idade Média. Portanto, devemos considerar essa visão seriamente antes de ir em frente. Nas mentes de muitos hoje, poderia isso ser o tratamento melhor de que os aderentes de outras fés pudessem esperar do Judaísmo. Alguns poderiam desejar dizer que não queremos mais dar comentários sobre outras religiões. Podemos viver em paz e tolerância respeitando outros seres humanos como criaturas de Deus, mesmo se não tivermos opinião sobre a verdade da fé deles.

A posição última seria aceitável se fossemos decididamente neutros no sujeito. No entanto, não ficariam nenhumas atitudes internas e implícitas a respeito outras fés? Ficariam aquelas também neutras? E, se não, seriam provavelmente favorável ou desfavoravelmente dispostas referente a outras fés?

Essa postura chagou a ser impossível para manter e, sugiro, perigosa também. Por exemplo, há movimento hoje em direção a diálogo inter-religioso e auto-examinação crítica das declarações da própria tradição da gente referente a outros. Implícito em muita atividade de diálogo está uma percepção de que sentidos implicados poderiam resultar numa for particularmente feia de articulação. Palavras proferidas dentro da comunidade como somente palavras podem eventualmente incitar e justificar feitos mortíferos que eram longe da intenção original daqueles que as falaram. Estou, naturalmente, me referindo a nossa experiência do vigésimo século do Holocausto, a qual nos ensinou que crenças e atitudes ásperas podem finalmente influenciar o nosso comportamento referente a outros. Fatos apanham com palavras e, eventualmente, o processo de de-humanização pode levar a destruição.

É que a consciência jaz atrás de muita atividade de diálogo. A gente deve congratular os esforços corajosos de muitas Igrejas que confrontavam abertamente as suas próprias tradições de desdém contra judeus e Judaísmo. Demonstraram a urgência desse esforço e a impossibilidade de deixar as coisas flutuarem embora, enquanto esperando por um efeito agradável.

Assim, retornamos ao nosso assunto que põe um desafio importante a judeus, bem como a outros. Qual é a relação do nosso modo aos muitos modos dos outros entre os quais vivemos?

A visão medieval está, portanto, vista como possuindo muitas dificuldades. Julga outros de acordo consigo mesmo, um ato que vai contra o conselho sábio dado na Ética dos Pais: “Não julgues o teu companheiro antes de estiveres na mesma situação.” Atende respeito a indivíduos como seres humanos, mas não quando formarem um grupo para celebrarem as suas crenças mais estimadas. Além disso, enquanto reconhecendo elementos de verdade naquelas fés que emprestavam da nossa própria, ignora completamente o assunto das muitas outras fés na comunidade humana.2

Uma segunda medida poderia ser a lição que Moisés aprendeu naquele primeiro dia de Yôm Kipur. Não podes compreender os caminhos de Deus e antecipar o modo em que Deus seria revelado, pois “Eu serei gracioso a quem Eu serei gracioso, mostrando compaixão a quem mostro compaixão.” Depois da Presença graciosa, o reconhecerás como tal em outras palavras, onde quer que encontramos graciosidade e compaixão estamos encontrando a Presença, mesmo se for fora da nossa comunidade.
Peço relembrar a minha hesitação no apresentar essas sugestões. Estão tentadoras, mas encontro nelas conforto, porque nos desafiam a evitar crítica auto-reta de outras comunidades e a olhar a nós mesmos: à nossa humildade e à nossa capacidade de reconhecer graça em outros.

*****

Pluralismo pode ser derivado do mandamento geral de amor para outros, o qual é a base da atitude ética religiosa. Que amor está sendo desafiado para estender não só para o nosso vizinho que compartilha as nossas crenças e valores, mas também ao estrangeiro no nosso meio. Presumivelmente, a estranheza do estrangeiro não está limitada a origens estrangeiras, mas a crenças e valores que também forem estranhas para nós. Tão difícil como isso possa ser, é uma meta nobre em direção da qual é para esforçar-se para obter. Superando o medo do outrismo do outro e o substituindo por respeito, cuidado e amor seria certamente um cumprimento, um exemplo de amor no mais alto.

No entanto, essa aproximação deixa um tanto aberta a questão da legitimidade das crenças do outro. A gente pode manter que isso seja afirmado fora do mesmo amor como legítimo, apesar da minha convicção da absoluteza da minha fé. Quaisquer contradições serão resolvidas no mistério do Deus infinito. Essa é forma de tolerância, mas não é afirmação da verdade dos cometimentos mais preciosos do outro. Finalmente, produz arrogância sobre as crenças próprias da gente e condescência a outros que certamente corre em sentido oposto ao ideal de humildade que, com amor, é um marco importante de qualidade da piedade. A arrogância é produto do entendimento de que, enquanto as minhas próprias crenças estão claramente explicadas, as crenças do outro permanecem nebulosas e misteriosas e até ameaçando as minhas próprias. As minhas crenças ocupam a paisagem inteira de legitimidade, não deixando nenhum espaço teológico para outras. Paradoxalmente, portanto, até o encontro com o estranho pode aumentar a nossa capacidade para amar, pode reduzir a nossa humildade. Isso leva muitas vezes à criação dum muro de proteção sobre a fé da gente, para prevenir um encontro sincero com a importação de outros pontos de vista e de outras idéias. Pois o desafio do outro para nós não está limitado ao plano ético, mas igualmente ao refletivo, intelectual e, para os pios, à dimensão teológica.

Por essas razões, a perseguição duma estrutura teológica para pluralismo religioso é necessidade. A categoria de humildade teológica em face do Deus infinito e misterioso está, esperadamente, um movimento nessa direção. Focaliza na natureza infinita do Ser de Deus, na natureza finita do nosso entender e, portanto, na responsabilidade duma pluralidade de aproximações legitimadas ao divino.

O estímulo para encontrar fundo religioso para o pluralismo é um desafio posto pela experiência secular moderna. A modernidade retrata religião uma como fonte de intolerância e exclusividade porque, na sociedade pré-moderna, religião determinou qualidade de membro na, ou exclusão da, sociedade.

Os pensadores do Iluminismo desenvolveram uma base nova para sociedade: os direitos naturais e individuais de cada pessoa. Religião seria um assunto provado, sem referência à estrutura política como tal.

Os estados novos fundados nesses princípios democráticos – especialmente no Mundo Novo – atraíam muitas pessoas do mundo inteiro, que estavam escapando de intolerância e perseguição religiosas. Mas neste ambiente mais aberto, muitos perderam a sua fé quando se integraram na nova sociedade, juntando-se com outros para criar uma cultura comum, secular, compartilhada por todos e particular para ninguém. Aqueles que tentavam reter um cometimento intenso à sua fé e cultura originais tinham de aprender a tolerar – muitas vezes involuntariamente – a presença de muitas outras fés. Assim surgiu o impulso em direção a pluralismo.

Pluralismo é, portanto, produto da ênfase do Iluminismo em Razão como fonte de valores. Razão criava o estado moderno e a sua sociedade aberta. Democracia é um processo em andamento que requer vigilância constante e discurso racional para manter a liberdade dos seus membros.

Os iniciadores da sociedade moderna podem ter esperado que, com o tempo, diferenças significantes entre os cidadãos iriam diminuir e desaparecer; uma cultura verdadeiramente comum iria emergir e a seguir juntar os cidadãos3

… James Madison escreveu: “Tendo sempre considerada a liberdade de opiniões e venerações religiosas como igualmente pertencente a qualquer seita e o gozo seguro dessas como a melhor provisão humana para levar todos ou para dentro do mesmo caminho de pensar ou para dentro daquela caridade mútua a qual é o único substituto apropriado…” …

Essa cultura pode até ter elementos de espiritualidade e, como está sendo muitas vezes chamada, ‘religião civil’. Apesar dessas expectativas, somos testemunhas para uma persistência notável de muitas fés tradicionais. Recusaram-se de desaparecer e continuam atrair crentes cometidos e chamar a atenção da vida espiritual de milhões. Essa persistência e a relativização corrente de fé fazem a elaboração dum pluralismo religioso principiado uma necessidade urgente. Num sistema baseado em Razão e discurso racional, uma aproximação religiosa racional está mais segura e mais atraente. Religiões não têm de ser percebidas como fontes de conflito e intolerância, e a persistência e revitalização de religião não é necessariamente uma ameaça para a sociedade democrática aberta. Religiões podem abraçar um degrau de abertura no seu próprio auto-entendimento. O assunto de pluralismo pode assim ser visto para formar mais um capítulo na história em curso da relação entre razão e revelação, fé e ciência.

Religionistas devem humildemente reconhecer pecados na perseguição, supressão e denegração de outras fés.4

Em resposta a mesma oração por Noé, Thomas Jefferson escreveu: “Vossa seita, pelo seu sofrimento, forneceu uma prova notável do espírito universal de intolerância religiosa inerente em cada seita, negada por todas quando fracos e praticada por todas quando no poder…”…

Sem o desafio da experiência moderna, pode ser que não termos chegado a nos levantar acima dessa falha histórica. Encontrando a integridade de outros numa sociedade livre, fomos estimulados para renovar e refrescar o nosso auto-entendimento. Podemos manter tanto a nossa humildade quanto o nosso amor.

Ultimamente, estamos tratando aqui com o desafio de razão e revelação. Para pré-modernos, o assunto permanecia no plano intelectual-teológico. Para nós, o assunto se filtrou para dentro da fábrica de experiência social moderna, amedrontando muitos para se retirar do encontro. Para alguns, é fonte constante de enriquecimento e renovação na estrada perpétua para entender do mistério de Deus e da majestade complexa da Criação.

*****

Há muitas questões intricadas nesse assunto. Pondo a questão de se ou não uma religião é verdadeira ou possui verdade, estamos assumindo que sabemos o que tencionamos quando usamos a palavra verdade a respeito de religião, mesmo da nossa própria. Está na própria natureza tratar de certeza e verdade no mesmo modo de que outros empenhos humanos operam? O que, então, entendemos por fé, confiança e crença?

Humildade é característico que inclui tanto modéstia quanto auto-estima, mas que se move para o lado modéstia num contínuo que varia entre esses atributos.5 Pessoas humildes evitam ambos os extremos, não exibindo nem arrogância nem auto-anulamento excessivo indigno duma criatura na imagem Divina, a qual pode ser endereçada, desafiada e mandada pelo Criador amante. Estão seguros na sua humildade e confiam nela como disposição essencial ao mundo ao seu redor.

A importância da humildade jaz não somente na esfera inter-pessoal. É também uma qualidade teológica, uma categoria de pensamento que descreve tendências já presentes na reflexão teológica. Uma vez definida como tal, pode chegar a ser um conceito mais útil que nos guia quando considerarmos questões teológicas.6

No refletir sobre essa idéia, descobri que o termo ‘modéstia teológica’ fora usado e, com referência a alguns mas não todos os mesmos textos que espero tratar. Henry Seigman usava o termo ‘modéstia teológica’ em referência à nossa incapacidade de chegar à precisão teológica. Vê o seu ensaio “Ten Years de Catholic-Jewish Relations” [Dez Anos de Relações Católicas-Judaicas]…

A humildade teológica alcança a sua expressão mais clara durante a segunda estadia de Moisés no Monte Sinai como narrada em Êxodo 32-34. Moisés tenta aproveitar o momento gracioso para ganhar do entendimento de Deus tanto quanto possível. Ele pede corajosamente uma revelação plena da Glória ou Presença. Foi dito a ele que isso é impossível: nenhum humano pode realizar essa meta. Enquanto humanos podem reconhecer a Graciosidade de Deus, “não podes ver a Minha face, porque humanos não Me podem ver e viver.” Finalmente lhe é dito: “verás as Minhas costas, mas a Minha face não será vista.”

Esse texto nos tem muitas vezes motivado para que fiquemos teólogos relutantes ou modestos. Não há possibilidade real para desenvolver plenamente o nosso sujeito, assim porque preocupar-se?

Mas a lição é mais forte. Estamos sendo ensinados aqui que esse momento espiritual elevado não leva a nenhum saber absoluto. Encontro com o Absoluto é esmagador e convencedor, mas não fornece descrição absolutamente exata do Divino. A gente vê as costas de Deus, mas não a face de Deus. A nossa tentativa de conhecer Deus precisa ficar incompleta. Todavia, o crente inspirado continua ser fiel depois do encontro. O que foi visto é evidência bastante.

Isso chega a ser claro na discussão por Maimônides da experiência de Moisés.7

Código, I (Mada), Yesodei Hatorah, Ch 1/9-10. O rábi Emanuel Rackman, o meu professor, primeiro chamou a atenção para esse texto a mim. A aplicação é a minha própria. O rábi Rackman suportou subseqüentemente a minha aplicação.

Relembra-nos que todas as descrições de Deus são metáforas ou analogias, não pretendendo que sejam entendidas literalmente. “A verdade da Presença de Deus não pode ser entendida, nem percebida nem examinada. O quê então Moisés requereu do Santo Único? … Perguntou-O para saber da realidade da existência de Deus, assim que o seu conhecimento fosse similar ao conhecimento duma pessoa cuja face a gente tem vista, estando agora conhecida como ser sem par.” Isso era impossível. Mas, “é que Deus revelou a ele o que não era conhecido a qualquer outra pessoa antes ou depois dele: até ele percebeu da Existência de Deus alguma coisa em que a unicidade de Deus permanecesse na sua mente com distinta de outros seres.” A seguir, Maimônides explica a metáfora no texto bíblico. É similar ao reconhecimento de alguém que conheces somente através de ver aquela pessoa das costas, mas isso é suficiente para reconhecer que é a pessoa particular.

Maimônides não disse o que foi especificamente revelado a Moisés que o capacitasse a reconhecer Deus das costas, para assim falar. No entanto, o texto não fala de Deus fazendo “toda a Minha Deidade passar diante de ti como proclamo o nome do Senhor diante de ti: Eu serei gracioso a quem Eu quero ser gracioso, e mostrar compaixão a quem Eu mostro compaixão.”

De acordo com a tradição, esse dia chegou a ser Yom Kipur. Era o dia em que o pecado do Bezerro de Ouro foi perdoado. Era o dia, quando a mensagem do amor gracioso de Deus foi louvamente proclamada.

No Yom Kipur, como em outros tempos quando esse momento está sendo relembrado, o nome de Moisés não aparece no texto de oração. No lugar, ele está sendo referido como “o humilde”. Estamos sendo relembrados que de todas as muitas qualidades que Moisés indubitavelmente possuía, é a humildade para a qual ele está sendo aclamado na maioria das vezes.

Em Números 11-12, Moisés está sendo referido como “um homem muito humilde, mais que qualquer outro homem na terra”. Isso se refere a percepção de Moisés da sua própria honra e responsabilidade. Não recua do compartilhar do espírito divino, a fim de que o povo seja convenientemente guiado. “Queria que todos do povo do Senhor sejam profetas, que o Senhor ponha o Seu espírito neles!” Escolheu ignorar qualquer difamação que Miriam e Aarão podem embargar contra ele, confiante que as suas ações têm sido consistente com a sua missão. Assim, no Yom Kipur, e em outras vezes, quando queremos recordar a mensagem de amor e graciosidade divinos, é a Moisés como anav, o humilde a quem nos referimos. Era a sua humildade que possibilitou a sua revelação, que agora está como a esperança central para perdão aos seus discípulos apreciativos.

O Moisés maduro é completamente diferente do momento em que o encontramos primeiro na Bíblia. Como príncipe jovem do Egito, decide deixar o palácio e ir para fora aos seus irmãos. Enchido de entusiasmo juvenil e pode ser um toco de arrogância, mata um capataz egípcio que bate num escravo hebraico. É que esperava com um sopro liberar Israel? A sua retirada necessária do Egito e exílio por muitos anos em Madiã o deixam totalmente impotente para assistir o seu povo. Aprendeu a sua humildade no modo duro.

Na sarça ardente, Moisés continuou aprendendo humildade. Aqui ele está-se demasiadamente auto-retraindo, oferecendo argumentos repetidos contra a sua seleção como mensageiro de redenção. De super-confiança teve de ir a brandura excessiva. Monta argumentos sucessivos contra a ventura redentiva, da sua própria inefetividade a impossibilidade de ganhar o consenso do Faraó e o acordo da nação desmoralizada lânguida em cativeiro.

Moisés precisava ser endereçado para desenvolver para dentro do papel de liderança. Humildade, paciência e reconhecimento da complexidade de assuntos humanos, bem como tais como a possibilidade de reveses, - tais como o episódio do Bezerro de Ouro – são todas requeridas para levar o povo a redenção. Quando mais tarde volta ao monte – depois do Êxodo, da Revelação do Sinai e do Bezerro de Ouro – aprende as limitações do alcançamento humano: os seres humanos podem não Me ver e viver. É um Moisés humilde que aceita que não pode ver a face de Deus. Ninguém pode olhar rápido ou entender a plenitude da Glória [do Ímpeto da Essência] de Deus. As costas têm de ser suficientes.

Esses textos sugerem uma mensagem sobre os limites do saber teológico: a nossa visão e as palavras que usamos para descrever o encontro com Deus nunca podem ser plenamente compreendidas. O Deus infinito pode ser visto a partir um número infinito de perspectivas, cada uma das quais deve ser tão ultimamente correta que as outras. Por definição uma única perspectiva não pode ser infinita, não pode compreender todas as perspectivas possíveis que incluam a verdade toda da existência de Deus.

Essa posição poderia soar relativista. No entanto, há uma diferença vasta entre a reivindicação de que todas as religiões são essencialmente o mesmo e a reivindicação de que muitas religiões possam ser válidas ou verdadeiras. A posição anterior implica que não haja diferença entre as religiões. O último mantém que haja diferenças significativas. Essas podem ter a ver com perspectivas e verdades teológicas, mas também se relacionam a eventos e experiências fundacionais, nos quais a tradição está construída e a comunidade histórica ativa, que celebra aquela fé particular. A cada comunidade, os seus eventos fundatorais e eventos e experiências, nas quais a tradição está construída, e a comunidade histórica ativa que celebra aquela fé particular. Para cada comunidade, os seus eventos fundamentais e a articulação destes para dentro da religiosidade viva através das idades são sagrados. Há, portanto, muito que diferencia religiões uma da outra: evento e interpretação, condições históricas e experiências, literatura sagrada, linguagem e cultura. Cada uma dessas perspectivas pode ser uma apreensão real do divino, não reduzível a qualquer outra. É um dos modos em que o Deus misterioso e infinito pode ser apreendido.

A posição que estou advogando trata seriamente as particularidades de cada tradição. Sob esse aspecto, evita o perigo de niilismo que negaria o valor de todas as crenças e morais, já que nenhuns critérios últimos e absolutos possam ser desenvolvidos. Essa posição está também relacionada a muitas correntes na filosofia moderna. Que chegaram à conclusão de que todo o saber é relativo: relativo ao consenso de indivíduos que aceitam esse saber e vivem por este. O saber científico está incluído nessa visão. Esse, também, se baseia no consenso duma comunidade de cientistas. O que está sendo considerado ser ciência muda continuamente como dados novos estão sendo descobertos e teorias novas estão sendo propostas. Entrementes, construímos pontes e fazemos voar aviões como se os princípios em que foram baseados estariam absolutamente livres de risco.

A modernidade testemunhou uma explosão em saber disponível para nós. Esse material está organizado em numerosas categorias, das quais cada uma reflete um método de aproximação. Assim, um dado pode ser sujeito para análise pela física, química e biologia, história, sociologia e psicologia. A religião também poderia ter alguma coisa a dizer sobre ele. A estética poderia também oferecer uma perspectiva. Temos como resultado uma pluralidade de formas de conhecer e saber: o pluralismo epistemológico.

Assim, o consenso sobre saber religioso em que uma fé particular se apóia é fundação séria e concreta. Verdade então chega a ser o significado coerente que uma comunidade dá aos eventos e tradições das quais está herdeira e como ordena a sua vida coletiva. Tem o seu apoio autoritativo dos seus líderes e está reconhecido pelos fiéis. Através da verdade esperam conseguir uma olhada do divino e trazer nas suas vidas pessoais e comunais as responsabilidades dessa visão. A humildade teológica, no entanto, requer que se lembrem de que essa é a verdade sua, necessariamente uma olhada parcial do infinito. O milagre dessa olhada parcial, essa perspectiva, é que é suficiente para formar e engajar a vida total duma comunidade.

Essa posição, portanto, pode ser a base de pluralismo sem relativismo. Ou, pode ser a base dum tipo novo de relativismo8 que entende verdade como ser relatada à perspectiva individual pela qual está sendo proferida.

Poderia ser chamada de ‘relativismo objetivo’. O meu pensar sobre esse assunto de epistemologia e metafísica tem sido grandemente influenciado pelo escrito de Justus Buchler nos seus livros, entre outros, Nature and Judgement [Natureza e Julgamento] e The Metaphysics of Natural complexes [A Metafísica de Complexos Naturais]. Jerome Eckstein me introduziu a esse material. A isso, as minhas leituras em Antropologia Cultural ajudaram formar essa perspectiva.

Também nos capacita a mantermos ambos os fins da nossa questão – o particular e o universal, a nossa fé na verdade da nossa fé particular própria e a afirmação da verdade de outras fés.

*****

O ceticismo moderno que caracteriza discussões de filosofia da ciência ou epistemologia e, daí, o mover em direção à humildade teológica está refletido no pensamento judaico recente. O rábi Abraham Isaac Kook reconheceu esse ceticismo como se derivando do pensamento kantiano, mas cria que não é idéia nova para o Judaísmo. Numa carta escrita em 1907, escreveu:

Até a “virada a Kant” não abraça a parte menor da força de Israel. É verdade que sempre soubemos que todos os julgamentos humanos são subjetivos e relativos, não precisando de Kant para nos revelar esse segredo…9

O rábi Kook escreveu também:

É impossível para um ser humano conhecer o caráter essencial de qualquer coisa, até de si mesmo e, certamente, de um outro, nem de um indivíduo nem de um povo. Estamos andando ao redor do centro do saber ocupados com estimações e avaliações… tentando a falar de um caráter único e alma particular. Precisamos reconhecer que o nosso saber disso pende num fio e que julgamento pertence a Deus.10

Nessa base, o rábi Kook conclui que:

A respeito da Verdade Divina Mais Alta, não há diferença entre um sistema de fé religiosa formulado (há-emunah há-mezuyeret) e ceticismo. Nenhum dos dois dá verdade. Todavia, a fé se aproxima mais perto à verdade, enquanto o ceticismo está mais perto à falsidade…11

O rábi B. Soloveitchik tratou essa questão no seu ensaio de 1944 The Halakhic Mind.12 Estava explorando a validade do saber filosófico e religioso como formas de saber, concluindo que pluralismo epistemológico conduz a pluralismo metafísico. Depois desse reconhecimento de vivemos num universo pluralista [porque não diz já: pluriverso (em vez de universo pluralista)? Trad.], bem como uma sociedade pluralista estabeleceu com sucesso que a questão tratada nesse ensaio pode ser levantada: o que é o relacionamento do nosso saber a outras formas do saber. Saber religioso reivindica ser saber absoluto do Absoluto. Se todo o saber estiver relacionado a uma perspectiva da qual o saber está colhida, então como possa qualquer reivindicação de absolutidade ser mantida? A categoria da humildade teológica ajuda para descrever e definir essa sensibilidade no pensamento religioso moderno.

*****

Não há critérios que emergem dessa análise pelos quais uma fé pode julgar outra? Não há expectações que uma comunidade de fé possa procurar na outra? No espírito relutante e hesitante da humildade teológica, ofereço algumas implicações possíveis que nos poderiam tentar bem como desafiar.

  1. Um critério para a verdade dum sistema religioso poderia ser a própria humildade teológica, um auto-reconhecimento da natureza finita de qualquer entendimento humano do divino. Assim, qualquer um modo é justamente esse. Reivindicar qualquer coisa a mais seria infiel à experiência religiosa fundamental.
    Crentes podem conseguir isso? Eles precisam asseverar a superioridade da sua perspectiva acima de outros? Eles precisam reivindicar validade universal das suas crenças e procurar impô-las em outros? Não basta se regozijar, celebrar e testemunhar dentro do seu sistema próprio? Precisam crer que, a fim de que o seu sistema próprio ser verdadeiro que deve ser verdadeiro para todos e não só para eles mesmos?

  2. Uma segunda medida poderia ser a lição que Moisés aprendeu naquele primeiro dia de Yom Kipur. Não podes compreender os modos de Deus, antecipando a maneira em que Deus seria revelado, pois “Eu estarei gracioso a quem Eu quero ser gracioso, e mostrar compaixão a quem Eu mostro compaixão”. Depois dos passos da Presença graciosa o reconhecerás como tal. Em outras palavras, onde quer que encontremos graciosidade e compaixão, estaremos encontrando a Presença, mesmo se for fora da nossa própria comunidade.
    Peço lembrar a minha hesitação no apresentar essas sugestões. São tentadoras, mas encontro conforto nelas, porque nos desafiam para evitar crítica auto-reta de outras comunidades e olhar a nós mesmos: à nossa própria humildade e à nossa capacidade de reconhecer graça em outros.

  3. Ser escolhido é mais uma consideração que precisa ser aderida. Há espaço para um conceito tal na perspectiva da humildade teológica? O meu próprio sentir está definitivamente afirmativo.
    Referi-me acima a várias tradições judaicas medievais que se relatam a outras religiões. Em cada uma, era reconhecido propósito divino naquelas outras tradições religiosas para o qual foram escolhidas. Maimônides diz o seguinte de tanto da Cristandade quanto do Islame:

    No entanto, os humanos não podem sondar os pensamentos (ou planos) do Criador, cujos modos e pensamentos não são os nossos. Todas as matérias de Jesus de Nazaré e do ismaelita (Maomé) que O seguiram são somente para endireitar o caminho para o rei Messiáh e para preparar o mundo inteiro para servir a Deus junto…13
    A conclusão de Maimônides aqui, “para servir a Deus junto” admite estudo. É que antecipa somente uma religião no fim dos dias com todos convertidos ao Judaísmo? Mais recentemente, o rábi Naphtali Zvi Yehuda Berlin (1817-93), conhecido pelo acróstico do seu nome como Neziv, tratou dessa questão geral em Shear Yisrael, o Resto de Israel. Mantém que, desde que Abraão foi encarregado como ser “um pai para muitas nações”, não é o plano de Deus extinguir outras nações e as fundir em Israel. Antes, Neziv vê a finalidade da aliança de Israel para efetivar uma elevação na vida religiosa, ou em alianças, de outras. “Agora, a vossa tarefa é ensinar a todas as nações o reconhecimento de Deus e não as converter como fora feito até agora. Desde o começo, fora a intenção de Deus manter a integridade de todas as nações, não incorporar cada uma em Israel. Era também o desejo de Deus que todos os povos viessem para reconhecer e venerar Deus sozinhos e que idolatria cessasse. Por isso, Abraão foi mandado para chegar a ser pai de muitas nações, mesmo sem a conversão delas.”…
    Assim, até pensadores judaicos, que insistem no ser eleito de Israel como princípio teológico fundamental, podem conceber uma escolha propositada de outros também. O drama divino operando no gênero humano será nunca completamente entendido por nós. Pelos nossos próprios critérios particulares, não podemos sondar o mistério de outras fés. Cada um pode manter o seu senso de ser escolhido particular e deve deixar espaço para outros também.

*****

O ânimo cultural do fim do século vinte mudou pelo mundo inteiro. Está outra vez legítimo distingir-se e ser e ser diferente étnica ou religiosamente. Religião está ‘in’ outra vez. Enquanto estamos tentados a dar as boas vindas a esse desenvolvimento, questões sérias estão sendo postas. A fé religiosa que está re-emergindo vai repetir os erros do seu passado, recreando um ânimo triunfal, arrogante e intolerante? Ou será uma que esteja humilde, castigada pela fraqueza em sociedades seculares e o seu sofrimento sob repressão totalitária? Terá aprendido alguma coisa que é valiosa da experiência pluralista moderna, ou tentará retornar-nos a uma forma pré-moderna de viver em sociedades exclusionárias segregadas baseadas em homogeneidade religiosa? Essas questões devem imprimir em nós a urgência de reconhecer a verdade bem como o valor da humildade teológica como conceito a ser articulado para os nossos tempos.

A humildade teológica gera outras formas de humildade também. Os verdadeiramente humildes evitam arrogância e deixam espaço para outras perspectivas, aprendem de outros, porque sabem que não têm a verdade inteira; e deixam espaço para a majestade misteriosa de Deus para se expressar no mundo em modos cada vez novos e inesperados. Os verdadeiramente humildes têm bastante auto-estima para levar a vida humana a sério e tentam realizar o que for possível no ajudar céu e terra para encontrar mais freqüentemente em momentos de graça manifesta em nossas vidas; crêem que, apesar da sua incapacidade de cumprir a tarefa, não estão livres de desistir dela, e crêem que Deus tem confiança na sua valia para as tarefas.

Informações literárias: nas notas 1 a 13 do texto inglês!


Texto inglês
Tradução: Pedro von Werden SJ


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