
| 30.06.2007
Porque não Podemos Criticar Israel desse Modo
por Matthias Küntzel
Why We Cannot Critcize Israel that Way
“Fui desprezado como judeu pelos alemães.” A sentença inicia o ensaio do cientista político francês Alfred Grosser, “Porque Critica Israel”. Ele não é o único que enfatiza identidade judaica quando criticando Israel. Um grupo alemão-judaico está chamando para terminar o boicote de Hamas; autores judaicos-americanos, como Tony Judt, argüiram pela dissolução de Israel como estado judaico; e 350 judeus na Grã-Bretanha (Vozes Judaicas Independentes) se distanciaram da posição pro-Israel da sua organização de guarda-chuva.
Alguns, tais como o historiador Eric Hobsbawn e o dramaturgo Harold Printer, vêem ter descoberto a sua Judiaria em chegar a serem críticos da política israeli que lhe juntou atenção maior na mídia. A contenção de que judeus não possam ser suspeitos de anti-semitismo e que sejam portanto críticos especialmente convincentes, a gente assume, é senso comum. Isso, no entanto, contradiz um estudo publicado pelo Comitê Judaico Americano, que documenta anti-semitismo entre escritores judaicos, concluindo que judeus que contestam e desafiam Israel jogam um papel decisivo. Esse fenômeno representa uma “característica cambaleante de anti-semitismo novo”.1 Como vemos a crítica de Israel por Alfred Grosser? Os argumentos deste são “especialmente convincentes” ou “cambaleantemente anti-semíticos”?
Grosser chama a nossa atenção para “a sorte terrível de habitantes de Gaza, o Banco Ocidental ou Jerusalém leste”, atribuindo às circunstâncias deles à “posição terrível da política israeli do dia presente”. Escreve: “Não entendo o fato de que judeus hoje desprezam outros, reivindicando o direito de desempenhar política impiedosamente no nome de autodefesa”. A violência de Israel, continua, está “engodando … tanta gente jovem para ataques suicidas”. Além disso, a questão árabe “antiga, fundamental” tem de ser tomado seriamente: “Porque devemos carregar as conseqüências onerosas de Auschwitz?”
Aqui, Grosser toca numa marca delicada, crucial para a consciência culposa de muitos europeus que se consideram indiretamente responsáveis pela situação dos palestinenses. Isso, no entanto, está numa assunção falsa: Nenhum árabe tivera de sofrer conseqüências onerosas por Auschwitz. É verdade: que a experiência do Holocausto incitara em 1947 as Nações Unidas a votarem em favor da fundação dum estado judaico na Palestina. O fato de que essa resolução ao mesmo tempo criou um estado palestinense árabe, no entanto, caiu em esquecimento.
Opressor Eterno?
A maioria dos árabes palestinenses desejava aceitar a solução de dois estados das Nações Unidas em 1947. Depois de tudo, nesse tempo cerca de 10.000 palestinenses estavam trabalhando em indústrias predominantemente guiadas por judeus, tais como cultivo cítrico. Mas o mufti de Jerusalém, Amin el-Husseini, rejeitou a solução de dois estados sem consultar os seus co-palestinenses, persuadindo os líderes das cinco nações árabes para prevenirem o estabelecimento dum estado judaico por todos os meios. A guerra de 1947-48, justamente tão desastrosa como evitável, resultava nas “conseqüências onerosas” às quais Grosser alude: 6.000 israelis e palestinenses sem número mortos, e palestinenses árabes e judeus inúmeros dentro do restante do mundo árabe deslocados.
Até este dia, a historiografia da PLO suprime vozes árabes que suportavam o sionismo ou chegaram a termos com o movimento sionista. Era nesse espírito que numerosos árabes saudavam imigrantes judaicos na década dos 1920 como investidores que ajudassem a diminuir a fenda material e cultural entre o leste e o oeste com tecnologia nova e entusiasmo novo. O estudo pioneiro de Hillel Cohen, Colaboração Palestinense Com Sionismo 1917-1948, conta os motivos para árabes colaborarem com sionistas. Alguns se prometiam ganhos pessoais (renda suplementar ou emprego), outros co-operavam em que consideravam ser o melhor interesse das suas tribos, aldeias ou nação, enquanto as motivações dum terceiro grupo “eram éticos e humanistas: Tinham judeus como amigos e vizinhos e estavam desgostados pela violência do movimento nacional palestinense.”2
Esses atos de violência foram perpetrados por árabes cujo ódio de sionistas era radicado no modo moderno de vida dos novos imigrantes – um modo de vida que severamente desafiava costumes tradicionais. Enquanto, em regra, o braço de palestinenses a favor de modernização procurava cooperar com sionistas, precursores islamistas, sob a liderança do mufti Amin el-Hussein, lutavam contra qualquer convênio tentado como traição, possibilitando assim a derrota da primeira proposta de dois estados em 1937.3
Esse legado do mufti continua ter efeito. Aqueles que procuram um assentamento com Israel ainda arriscam as suas vidas: Um total de 942 palestinenses foi assassinado por co-palestinenses entre 1987 e 1993 devido a “colaboração”, em que 130 dessas alegações envolviam “mis-conduto moral” (uso de droga, “prostituição”, tráfico de vídeo).4
É que Grosser está interessado nessas mortes também?
O Mal Abstrato
Sari Nusseibeh, o representante anterior da PLO para Jerusalém e diretor da Universidade Al-Quds, se refere à segunda intifada como “acesso ruinoso e sanguinário de loucura” na sua autobiografia recentemente publicada. Critica corretamente a carta da Hamas como documento que “soa como se viria diretamente das páginas de Der Stürmer” (O Avançador, uma revista dos nazistas alemães; trad.).5
Dissidentes como Nusseibeh não estão sendo mencionados no ensaio de Grosser. Visa os palestinenses como vítima coletiva e Israel como o agressor que comete crimes “em nome de autodefesa”. Obviamente, Grosser está pouco interessado nas opções políticas para Israel. Quando perguntado numa entrevista em abril de 2007 no diário alemão Die Tageszeitung: “Não é verdade que Israel encara uma ameaça:especial?” replicou: “Em minha opinião: Não. Israel existe.”6
Quando o presidente iraniano Ahmadinejad se refere à obliteração de Israel como contribuição à “liberação da humanidade”, Grosser não escuta.
Também vira um olho cego a Hassan Nasrallah, o líder da Hezbolá, que chama Israel de “câncer” que “deve ser eliminado”, e também à carta da Hamas, que considera a destruição de Israel sendo um voto, uma promessa a Deus. Se Israel continua ocupar a Faixa de Gaza ou sai do território apesar da oposição doméstica rancorosa, parece ser irrelevante para Grosser. Se a Faixa de Gaza desenvolver para dentro da região modelo palestinense florescente depois da retirada, cujos habitantes focalizem em paz e prosperidade (como estava sendo esperado no verão de 2005), ou se esse espaço de terra vire a ser uma linha de frente militarizada da guerra contra Israel, também não importa a ele.
Essencialmente, o paradigma preto e branco familiar deve ficar intacto. Grosser retrata Israel como o mal abstrato, sem consideração daquilo que políticas o governo israeli executa ou não executa – enquanto os palestinenses pretendem um bem abstrato, sem consideração daquilo que os seus representantes permitam ou cumpram.
O Começo de Cumplicidade
Assim, Grosser mostra entendimento até para terror suicida, atribuindo a disposição “para cometer ataques suicidas” a “opressão, desrespeito e deproprietação”.7 Da perspectiva do ofensor, a tentativa de Grosser para reabilitar a honra do bombeador suicida representa uma afronta.
O xeque Qaradawi, o mais proeminente representante da Irmandade Moslim, da qual Hamas é organização membro, nos relembra: Essas “não são operações suicidas. São operações de martírio heróicas. e os heróis que os executam não embarcam nessa ação por falta de esperança e desespero.”8 Orgulho e entusiasmo são centrais para os vídeos testamentários de assassinos suicidas, que confirmam a reivindicação de Qaradawi de que estão cumprindo uma missão religiosa.
Grosser ignora o fato de agir fora de “simpatia genuína pelo sofrer em Gaza e nos ‘territórios’”, degenera para dentro dum gesto; não cuida de análise, a qual – na sua tradição literal – quer dizer dissolução dum problema complexo nas suas partes individuais. A ausência de clareza, no entanto, é o começo de cumplicidade. Tais como Grosser que viram um olho cego à ideologia islâmica – o culto desta de morte, o anti-semitismo desta, o ódio deste de autodeterminação – apunhala qualquer moslim nas costas que quer prevenir a talibanização da sua vida.
Segundo, fazem de Israel o bode de expiação para a violência islâmica segundo o moto: Quanto mais bárbaro o terrorismo judaico chega a ser, tanto mais ultrajante a culpa israeli deve ser. O estereotipo antigo “o judeu é o culpado” está assim suplementado com variante moderna.
Esse tipo de argumento circular, baseado em ignorância, está em voga. Um levantamento de 2007 patrocinado pela BBC [British Broadcasting Corporation] mostra que 77 por cento de alemães vêem negativamente a influência de Israel no mundo.
O único país no mundo cuja eliminação está sendo propagada e preparada por Irã, Síria, Hezbolá e Hamas, está assim considerado como bode de expiação nº 1.
É compreensível que, contra esse fundo, um número crescente de judeus prefere pertencer aos “judeus bons”, que atacam Israel em vez de defendê-lo contra islamistas. Porque judeus devem ser mais corajosos ou mais prudentes que não-judeus? É, no entanto, cada um que radicalmente criticar Israel ao mesmo tempo um anti-semita?
Israel não é um porto de virtude como está geralmente conhecido.
De um lado, o governo de Israel serve para ser criticado justamente como qualquer outro governo democraticamente eleito no mundo.
De outro lado, o pensar europeu foi influenciado por padrões anti-semíticos durante séculos – nesse aspecto, nenhuma crítica de judeus ou de Israel está a priori [de antemão] imune de estereótipos anti-semitas. Pelo menos, uma definição de trabalhar da União Européia nos ajudou a estabelecer uma estrutura para avaliar quando crítica legítima pára e anti-semitismo começa:
- quando a política israeli está sendo igualada com práticas nazistas ou quando símbolos e imagens de ante-semitismo estão sendo assinados a Israel;
- quando o direito de Israel para existência está sendo negado; e
- quando um padrão duplo está aplicado e demandas duplas estão sendo feitos a Israel que nunca sejam esperados ou demandados de outro estado democrático.
Aqueles que quebrarem esse código não são necessariamente suportadores de anti-semitismo nazista. Eles, no entanto, pavimentam o caminho para aqueles que estão preparados para fazer uma guerra nuclear contra Israel. Hostilidades contra Israel aparecem hoje na forma de movimento de torquês
De um lado, temos anti-semitas tais como Ahmadinejad ou Hamas, que tiram o seu “saber” sobre judeus dos “Protocolos dos Presbíteros de Sião”.
De outro lado, temos não-judaicos e judaicos “co-viajantes de anti-semitismo” em movimentos e governos ocidentais progressivos, que apóiam e proliferam, embora em forma modificada, as tentativas do Irã de delegitimar Israel.
Alfred Grosser pode ser locado no campo segundo? Deixarei a resposta à discrição do leitor.
Notas de fontes literárias 1 a 8: no fim do texto alemão.
Texto alemão e inglês
Tradução: Pedro von Werden SJ – Rua Padre Remeter, 108 – Bairro Baú – 78.008-150 Cuiabá-MT –BRASIL – pv-werden@uol.com.br
