
| 31.10.2005
Quarenta anos desde o Concílio Vaticano Segundo
Desafios Centrais que Enfrenta Hoje o Diálogo Judaico-Cristão Um Ponto de Vista Judaico
Rabbi Dr. Ron Kronisch
Introdução
Em 21 de abril de 2004, fui convidado a exibir o nosso filme “I am Joseph Your Brother” [Sou José, Vosso Irmão] por rábi Daniel Brenner e dr. Kaherine Henderson do Auburn Theological Seminary e o Fr. Jim Loughran do Graymoor Institute, como parte da minha qualidade de bolsista como cientista livre do Graymoor durante o ano acadêmico de 2003-2004. A seguir da apresentação, estive satisfeito por juntar algumas reflexões sobre o tópico: “No 40º aniversário da declaração Nostra Aetate do Concílio Vaticano Segundo - Quais são os desafios centrais que enfrentam o diálogo judaico-cristão? Um ponto de vista judaico”. A isso, na segunda parte da minha preleção, fui solicitado a juntar algumas idéias sobre como continuemos o espírito de diálogo em Israel, explicando o que nós em Israel estamos fazendo para fazer o diálogo inter-religioso um instrumento para a construção de paz na nossa parte do mundo. Este papel vai refletir ambos os aspetos daquela preleção.
O Vaticano II: a Revolução na Igreja Católica
Não há questão que o Concílio Vaticano Segundo, convocado pelo papa João XXIII, era uma maior revolução na Igreja Católica, capacitando a Igreja enfrentar o mundo moderno com coragem e cometimento novos. Muito tem sido escrito e dito sobre isso nas quatro décadas passadas, assim não quero repetir o que já está bem documentado e bem conhecido agora.
Uma das coisas mais surpreendentes sobre as mudanças que foram lavradas com o Vaticano II era o papel central atribuído ao diálogo com os judeus no processo. A resposta do papa João XXIII bem conhecida ao historiador judaico Jules Isaac (em junho de 1960), o qual traçou o anti-semitismo da Igreja até aos Evangelhos, era encarregar aqueles que eram responsáveis para preparar o Vaticano II para acolher o assunto das relações da Igreja com o Judaísmo como matéria de prioridade. E o gesto simples, efetuado pelo papa João XXIII, quando este cumprimentou a delegação judaica no Vaticano em junho de 1962, dizendo “Sou Joseph vosso irmão”, estava acompanhada pelo papa descendo do seu trono para sentar com os judeus numa cadeira simples. De fato, segundo o historiador James Carroll, “o mandato do Concílio de reformar a Igreja era arraigado na história das suas relações com os judeus” (Constantine’s Sword [A Espada de Constantino], p. 551).
Essa história era longa e tortuosa. Mas, desde o Vaticano II – isso é desde o começo do diálogo (entre cristãos e judeus e entre a Igreja e todas as outras religiões mundiais maiores), argüiria que estamos claramente numa era nova. Poderíamos chamá-la de “a era nova de diálogo”. Temos mudado de perseguição para parceria, de confrontação a cooperação, de desespero para esperança. Ainda, não é questão que a liderança do papa João Paulo II, cujo falecimento recente é perda para toda a humanidade, dava liderança continuada e consistente para promover o diálogo entre cristãos e judeus em modos que eram sem precedência na história da Igreja Católica, culminando com a sua peregrinação à Terra Santa em março de 2000.
Educação pelo novo filme “Sou José Vosso Irmão”
Infelizmente, os resultados do Diálogo da Era Nova – e as mudanças revolucionárias que tomaram lugar entre judeus e cristãos no tempo da nossa vida – não são bastante bem conhecidas no mundo. Isso é porque a minha organização em Israel, The Interreligious Coordinating Coucil in Israel [ICCI = Conselho de Coordenação Inter-religiosa em Israel], pronunciou um filme documentário de uma hora faz três anos, intitulado de “I am Joseph Your Brother” – com a ajuda de uma doação do Conselho Católico dos Bispos dos EUA – filme esse que documenta esse processo e nos acorda para os desafios para o futuro. Esse filme, que foi mostrado na televisão ABC na América do Norte no outono de 2001, foi premiado em Roma no outubro de 2002, no festival de filme “Religião Hoje” em Trento no norte da Itália depois da mesma semana e foi apresentado várias vezes em audiências públicas e no canal “discovery” [descoberta] em Israel várias vezes.
Quando apresentamos esse filme em Jerusalém na presença do cardeal Walter Kasper, presidente da Comissão Pontifícia para Relações Religiosas com os Judeus, fomos previlegiados a ouvir uma preleção séria e erudita por Sua Eminência, intitulada “As Fundações, Progresso, Dificuldades e Perspectivas do Diálogo Judaico-Cristão”, ao qual fui solicitado de oferecer uma resposta judaica. Abaixo, vou compartilhar com o leitor deste artigo quatro dos pontos que ofereci nessa resposta.
1. Combater o problema de ignorância por educação
O problema número um que enfrentamos é ignorância. Depois todos esses anos, não sabemos ainda muito uns sobre os outros. Assim, precisamos de um programa educacional de muitas facetes, confirmado e sistemático em muitos e diversos arranjos: escolas, escolas de treinamento de professores e universidades, em currículos de escolas judaicas e católicas, em jornais e revistas, em jornais escolares, em conferências e oficinas, na educação formal e informal, em diálogos e seminários e através da mídia. O filme “Sou José Vosso Irmão” produzido pelo ICCI, é só um modo de fazer isso. E temos agora adicionado uma Learning Resource/Study Guide [Guia de Aprender Recurso/Estudo] para acompanhar o filme e o fazer mais amigável para o usuário.
Na sua preleção, o cardeal Kasper reviu algumas coisas da história de declarações católicas sobre judeus feitas pela Igreja durante os 35-40 anos passados. A verdade é que a Igreja tem feito muito mais para educar o seu povo sobre judeus e Judaísmo que os judeus têm feito sobre cristãos e Cristandade (isso é, sem dúvida, devido à natureza assimétrica da história judaica-cristã e ao fato de que o Judaísmo é mais integral para a Cristandade que o reverso). Em qualquer evento, eles (a Igreja Católica) têm sentido o imperativo de mudar os seus currículos, e nós judeus não temos. Pelo menos ainda não. Na minha humilde opinião, isso não pode continuar deste modo.
Parece-me que deva ser impossível para judeus continuarem a ensinar sobre católicos – ou cristãos em geral – num modo pré-vaticano II, justamente como seria inconcebível para católicos ensinarem sobre judeus numa feição pré-sionista ou pré-Israel. Nós judeus – na diáspora e em Israel – teremos de fazer muito mais no futuro para educar as nossas comunidades sobre as mudanças revolucionárias no pensar cristão sobre judeus e Judaísmo nas décadas recentes.
2. Obstáculos para o Diálogo
Haverá obstáculos para o diálogo, tais como:
Entendendo melhor o período do Holocausto. Se o documento “Nós nos lembramos”, que foi publicado pela Santa Sé em março de 1998, não for a palavra última pela Igreja sobre esse assunto, então isso significa que vamos precisar continuar para confrontar o assunto juntos em modos sérios e substanciais. Está muito central a psique e alma judaicas. Assim, precisamos perguntar: Haverá reflexões católicas sobre a Shoáh? Que espécie de reflexões? Histórica? Teológica? Educacional? Quais serão os passos próximos?
A necessidade de abrir os Arquivos Vaticanos para acertar a verdade histórica. O cardeal Kasper reiterou várias vezes o cometimento da Igreja Católica para permitir o acesso aos Arquivos Vaticanos “logo que a reorganização e re-catalogização fossem concluídas”.
A beatificação potencial de certos papas do passado é assunto sério que joga uma sombra gigante sobre o diálogo no presente bem como para o futuro. A história nos continua caçando. Mas, creio que não devamos focalizar somente nos obstáculos. Isso era freqüente demais nos anos recentes. Isso é que os jornais desejam ouvir. Isso faz as notícias. Mas não é a essência do nosso diálogo.
Não nos devemos permitir ser atolados no passado. Assim como procurarmos estudo histórico – e vamos precisar encontrar um caminho para fazer isso, que seja aprazível a ambos os lados do diálogo – nos precisaremos mover para frente com o nosso diálogo, de forma séria e sistemática.
Apesar da existência de assuntos bem conhecidos de contenção – e de algumas diferenças definidas de opinião de como acertar verdade, especialmente sobre o passado – precisamos continuar falar uns com os outros. De fato, argüiria que um dos grandes alcançados do diálogo no 40 anos passados é que podemos falar uns com os outros – honestamente, abertamente, construtivamente – sobre assuntos que se referem às duas comunidades de fé, em modos que eram inconcebíveis no passado.
3. Como ir adiante
Precisamos desenvolver um diálogo inter-religioso genuíno; um diálogo baseado em mutualidade e na necessidade existencial de aprender um sobre o outro e do outro, a fim de ser capazes de viver juntos no mesmo mundo.
Isso nem sempre era o modo que era no passado recente. Freqüentemente demais, o diálogo entre católicos e judeus (e outros cristãos e judeus) era assimétrico, baseado na nossa história muito assimétrica. Nós judeus estávamos continuamente estimulando os católicos que fizessem todos os tipos de declarações, denunciassem anti-semitismo (o que agora têm feito inúmeras vezes), reconhecessem o Estado de Israel (o que foi feito formalmente pelo fim de 1993) e emitissem uma declaração sobre a Shoáh (o que foi feito em março de 1998 em Nós nos lembramos).
Faz somente cinco anos, no ano de 2000, alguns judeus criativos e corajosos fizeram algo – na maioria rábis e acadêmicos e, na maioria, na América do Norte e em Israel (inclusive o vosso sinceramente) emitiram finalmente a declaração Dabru Emet [Falai a Verdade]. Esse é um documento revolucionário, e deve ser mais conhecido nos Estados Unidos e ao redor do mundo. Traduzimo-lo ao hebraico e fizemos uma conferência sobre ele em Jerusalém faz uns poucos anos.
Essa nova era de reciprocidade nos levará inevitavelmente para dentro do território teológico. Não precisamos ter medo disso. Precisamos aprender sobre as crenças básicas de cada outro – como isso está sendo feito crescentemente em diálogos e seminários e conferências novos nos anos recentes – se realmente intentamos entender uns aos outros.
Precisamos estudar as idéias centrais, cada um as do outro, como criação, revelação, redenção, justiça e paz, salvação e messianismo, lugar santo (p. ex. a Terra de Israel) e tempo sagrado (o dia de Shabat e das festas), universalismo e particularismo, e muito mais. E precisamos estudar os textos e sistemas de interpretação cada um os do outro, o modo em que cada tradição lia e aprendia a viver os seus textos sagrados.
Fazendo isso, vamos aprender o que nos une e o que nos divide. Não precisamos concordar em qualquer coisa. Isso seria supérfluo e simplesmente errado. De fato, isso é freqüentemente demais uma das ciladas do diálogo entre as fés. Antes, precisamos descobrir em quais áreas somos distintivos e únicos e em quais compartilhamos muito em comum (naquilo que, por vezes, está sendo chamado de a “tradição judaico-cristã”).
4. Ação Comum/Tikkun Olam: Como é que mudamos de diálogo a ação?
Um dos grandes desafios que enfrentamos juntos é a necessidade de agir junto em áreas em que já alcançamos algum acordo, tal como preservar o ambiente. Compartilhamos da terra de Deus, somos parceiros com Deus, administradores para a Sua criação, precisando agir em causa comum para proteger o que nos foi legado.
Podemos desenvolver mais áreas de acordo sobre tópicos importantes, como a dignidade humana e os direitos humanos, bem como assuntos de justiça e paz ao redor do mundo. Devemos agir para justiça e paz lado a lado onde pudermos, em tantos lugares do mundo quantos possível.
Temos uma tarefa real para agirmos juntos. Não diálogo por causa do diálogo, mas diálogo para TiQUN `OLóM, para o reparo o mundo. (Interessantemente, em documentos produzidos pelo diálogo, os católicos têm até adotado esse termo judaico/hebraico de TiQUN `OLóM nos seus escritos.)
Na parte do mundo em que vivo e trabalho, Israel e o Médio Oriente, isso é mais importante que jamais antes. Religião e líderes religiosos – têm uma reputação muito má no Médio Oriente (e outros lugares) e por boas razões. São freqüentemente demais percebidos (não incorretamente) como apoiando violência e terrorismo, ou guerra ou ocupação. Precisamos de vozes novas, uma visão alternativa, àquelas que as pessoas vêem diariamente na sua tela de televisão ou ouvem nos seus rádios, religiões e líderes religiosos que falarão alta e claramente com uma visão de justiça e paz para todos e não justamente para um ou outro lado do conflito.
A respeito disso, posso dizer que esse processo de ação comum - de TiQUN `OLóM, Reparar o Mundo – não é justamente o negócio de judeus e cristãos. De fato, líderes e comunidades das maiores religiões mundiais podem e devem agir juntos nisso. Porque creio tão fortemente nisso, fiquei feliz ao responder positivamente a este convite do Conselho Pontifício para o Dialogo Inter-religioso, presidido pelo cardeal Francis Arinze, para participar numa consultação de dois dias no Vaticano no junho de 2002, sobre o assunto de “Religião e Paz” (e fui a Roma outra vez em janeiro de 2003 para um encontro logo seguinte, em que líderes religiosos de partes diferentes do mundo compartilharam textos de tradições religiosas diferentes sobre guerra e paz). Junto com representantes de tradições budista, hindu e moslim, judeus e cristãos consideraram modos e meios de envolver religiões e líderes religiosos muito mais que isso era feito no passado no resolver e manipular conflitos em vários lugares no mundo. Por meu ver, nada poderia ser mais importante.
Ainda, se não fizermos isso, as nossas religiões chegarão a ser rapidamente irrelevantes e obsoletas e percebidas corretamente por pessoas ao redor do mundo como de outro mundo e insignificantes. Esse, portanto, é um dos desafios principais que confronta o diálogo judaico-cristão em particular e o diálogo inter-religioso em geral ao redor do mundo: a necessidade de trazer a voz profética de religiões e de líderes religiosos a se pronunciar – e a atuar – para paz no nosso mundo. A World Conference of Religions for Peace (WCRP = Conferência Mundial de Religiões para Paz) – com o qual o ICCI em Israel está afiliado como o capítulo Israel – é um dos líderes catalisadores no campo do diálogo religioso que nos move de teoria a pratica, de conversa a ação, catalisando líderes religiosos principais para se engajarem em esforços de construir paz nos seus países e comunidades próprios. Mais precisa ser feito nessa direção por todos engajados no diálogo inter-religioso. Chegar a trabalhar em time sobre isso e encontrar o outro é o primeiro passo necessário. Mas, aprender a viver juntos em paz é o próximo passo crítico que não pode ser mais tempo adiado no futuro.
Isso é, de fato, a meta maior dos programas do ICCI em Israel. Não diálogo por motivo de diálogo, mas sim diálogo que vá capacitar as pessoas de Israel e do Médio Oriente aprenderem como viver junto em coexistência pacífica, tanto com o Estado de Israel como na região como um todo.
Como é que faremos isso?
Fundo: Diálogo Inter-religioso para Construção de Paz
Durante os últimos 14 anos, no ICCI – o Conselho de Coordenação inter-religiosa em Israel – promovemos relações pacíficas entre pessoas. Desenvolvemos diálogos inter-religiosos novos e únicos, cujas metas abobadoras estão no serviço de paz e reconciliação. As nossas iniciativas de diálogo novas e muitas vezes quebra-fundo visam desenvolver uma cultura nova de paz, com o foco em promover relações pacíficas entre as pessoas, o que é tão desesperadamente necessitado na nossa parte do mundo.
O nosso Conselho inter-religioso foi fundado faz quase 14 anos, em 16 de janeiro de 1991, na véspera da primeira guerra do Golfo. Com máscaras de gás na mão, cerca de 23 pessoas se reuniram no subsolo do Seminário Ratisbonne, no centro de Jerusalém, para formar uma coalizão nova para proteger entendimento inter-religioso. Agora, mais que 14 anos depois, temos 70 organizações membros – judaicas, cristãs, moslins, ecumênicas e inter-religiosas – do Israel inteiro, envolvendo centenas e, por extensão, milhares de pessoas pelo país inteiro.
Via redes várias, estabelecemos ampla variedade de programas para promover entendimento mútuo através de educação entre os membros de grupos maiores de fé e nacionais/éticos no nosso país e região: judeus e árabes, se olhares o conflito em termos nacionais e éticos, ou judeus, cristãos e moslins, se olhares o conflito em categorias de comunidades de fé. É segredo bem guardado. Suspeito que a maioria dos leitores deste artigo nunca ouviram de nós ou sobre os nossos programas. Há reportagens das nossas atividades raras vezes nos jornais, nem apareceram muitas vezes nas notícias de noite, nem no CNN ou ABC ou BBC. Porque? A resposta é que não matamos pessoa alguma! E, graças a Deus, não nos engajamos em escândalo qualquer. Por isso, não estávamos nas notícias bem muito.
Nem por isso, a obra de educação inter-religiosa para paz progride cada dia, em programas educacionais muitas vezes silenciosos fora de notícia. Como fazemos o que fazemos?
- Promovendo diálogo, não destruição;
- fomentando coalizões e cooperação, não confrontação;
- construindo relacionamentos genuínos entre pessoas, baseados na confiança mútua;
- engajando em projetos de ação comum para o bem de todos os interessados, tais como a preservação da terra de Israel, na qual todos nós participamos (nós todos bebemos a mesma água e andamos nos mesmos vales);
- aprendendo os textos sagrados de cada outro, num espírito de indagação e participação em grupos de diálogo cuidadosamente facilitado.
Antes de ficar geral ou teórico, quero dar alguns exemplos de grupos de diálogo:
KEDEM, um acrônimo hebraico por Kol Dati Mefayes, Vozes Para Reconciliação Religiosa, é um novo programa de quebrar o fundo estabelecido em 2003 e agora entrando no seu terceiro anos de operação, graças a doações generosas para os três anos passados da República Federal da Alemanha. Esse programa ambicioso e inovador aproxima líderes religiosos árabes de base locais em Israel, imãs, xeiques e sacerdotes com rábis de todo o Israel para se encontrarem em diálogo e esboçarem planos para projetos concretos, que realizem entendimento e reconciliamento mútuos entre árabes e cidadãos judaicos do Estado de Israel. KEDEM tem agora recrutado outro grupo de 14 líderes religiosos para se juntar ao projeto e, para 2006, o plano é ter um terceiro grupo de 14 participantes, totalizando assim 42 líderes religiosos de base, judaicos e árabes, que vão divulgar um método de reconciliação religiosa através de suas instituições educacionais em obras de rede, incluindo escolas superiores, yeshivôt, colégios de treinamento de professores, institutos de educação de adultos e sinagogas mesquitas e igrejas nas comunidades judaicas e árabes por todo o Israel, e entre as comunidades.
Dois anos de atividade de KEDEM culminaram na primeira conferência anual do KEDEM, a qual se realizou em 29-30 de dezembro de 2004 num hotel no Mar Morto e num hotel em Jerusalém. Todos os membros do time de 2004 (7 rábis e 7 líderes religiosos árabes, 6 moslins e 1 cristão) e do ano passado (com exceção de um rábi que não podia atender por razões pessoais) atenderam a conferência de dois dias. Além disso, uma das maiores decisões do KEDEM estava em geral e para ver se estivessem interessados em chagar a serem participantes no KEDEM em 2005. Sete novos rábis e quatro novos líderes religiosos moslins vieram. A participação desses novos membros potenciais era enervante e encorajador, a maioria deles quer chegar a ser participante do KEDEM em 2005. A resposta deles à mensagem e método do KEDEM era extraordinariamente positiva.
Uma das partes mais maravilhosas do projeto KEDEM durante esses anos passados foi a razão de quase 100% de retenção de participantes no processo. Todos os participantes no KEDEM sentem que estão envolvidos num processo dinâmico pessoalmente transformativo, o qual chegará a ser mais importante para as suas comunidades e para a sociedade israeli com o tempo.
O seminário no Mar Morto focalizou em 3 elementos que chegaram a ser os blocos de construtores do método KEDEM:
- Desenvolver e fortalecer relacionamentos pessoais entre os judeus, cristãos e moslins no grupo. Isso foi feito nas sessões formais, em pequenos grupos que chegaram a se familiarizar, bem como através de refeições e intervalos de café.
- Aprender sobre as religiões do um e do outro. Isso era realizado por apresentações sobre o novo Instituto KEDEM para Aprender e Reconciliação, tanto para o grupo inteiro, como em encontros de grupo uni-nacional, nos quais aprender intensivo e discussão tomaram lugar entre os membros de cada grupo separado (rábis em um grupo, líderes religiosos árabes no outro). Aprender sobre as religiões e valores de cerne de cada outro é um dos mais importantes blocos de construção da experiência KEDEM. É novo e dinâmico para a maioria dos participantes no grupo, que nunca participaram numa experiência de aprender inter-religiosa sustenta, séria e substantiva, até se juntaram ao KEDEM.
- Discussões sobre assuntos centrais no conflito israeli-palestinense. Isso foi feito na segunda manhã da conferência por uma discussão de painel dramática e intensamente movente, na qual duas pessoas de fora falaram sobre porque sentiam que o diálogo com O Outro não era uma boa idéia e 2 participantes do KEDEM responderam por apresentações muito pessoais e pungentes sobre porque sentiam que não houvesse alternativa a esse diálogo e a ver modos de trabalhar juntos para o benefício de todos os cidadãos de Israel: para aqueles na maioria judaica e para aqueles na minoria árabe. Essa sessão era certamente um dos clímaxes da conferência e um dos pontos luminosos dos dois anos passados do KEDEM. Chegou a ser claro, desta discussão, que os membros do KEDEM sentiam que essas discussões sobre assuntos centrais fossem importantes para o seu desenvolvimento de confiança e boas relações de trabalho com cada outro.
A sessão final da conferência no Mar Morto era uma oportunidade para os membros do KEDEM e para os recém-chegados para compartilharem as suas reflexões pessoais sobre o que receberam do processo KEDEM durante o ano passado (ou os dois, para a maioria dos participantes) e para oferecer idéias para continuar e melhorar o programa KEDEM para o futuro. Os seus comentários e sugestões estão sendo coletados para planejar os programas do KEDEM para o ano vindouro.
Depois da conferência no Mar Morto, o grupo viajou a Jerusalém para o Primeiro Simpósio Inter-religioso KEDEM, realizado no hotel Olive Tree na Jerusalém Leste. A recepção e o simpósio foram bem atendidos (mais que 150 pessoas, incluindo judeus, cristãos e moslins, de Jerusalém Leste e Oeste). Era uma ocasião festiva. Uma das pessoas que atenderam a noite o chamou de “um triunfo” para a mensagem KEDEM. De fato, era uma oportunidade única e importante para o KEDEM ser representado ao público de Jerusalém. Além de discursos pelo núncio papal para Israel, msgr. Petro Sambi e pelo rábi professor Marc Gopin, que era cientista visitante na conferência, quatro membros do time KEDEM falaram publicamente pela primeira vez sobre como a mensagem e método do KEDEM são importantes para eles mesmos, as suas comunidades e as sociedades israeli e palestinense como um todo. Era uma conclusão notavelmente significativo e pungente para um ano cheio de progresso e possibilidades para o futuro, no contexto difícil do conflito em curso na região, que impacta todas as nossas discussões e atividades.
O Grupo Jonah: O ICCI patrocina o grupo indígena somente sustentado (durante muitos anos, mais que uma década agora) de Diálogo Judaico-Cristão em Israel/Palestina, o qual se chama de Jonah Group. O grupo, que está sendo co-liderado pelo bispo Nunib Younan, o bispo luterano palestinense de Jerusalém, e por mim, aproxima clero cristão palestinense e educadores com o clero e educadores judaicos para estudar os textos sagrados de cada outro e formar um entrelaçamento de escutar cuidadosa e compassivamente os assuntos de interesse comum. Um dos frutos do nosso diálogo, que conduzira a um relacionamento de amizade e confiança por muitos anos, era uma viagem de preleção em que nos empenhamos juntos com um colega moslim aos Estados Unidos faz três anos, para espalhar a mensagem de esperança e reconciliação entre audiências judaicas e cristãs (falamos em igrejas, bem como em sinagogas). Desde então, temos freqüentemente oferecido instruções resumidas e diálogo no nosso país. A isso, o grupo Jonah continua se encontrar para junto estudar textos e para discutir modos e meios de encorajar a paz justa na nossa parte do mundo.
O Diálogo judaico-moslim. Recentemente, completamos o nosso terceiro ano de um diálogo judaico-moslim único. Por 18 meses, juntamos 15 educadores, moslins e judeus, para estudar textos (da Bíblia e do Corão adiante, incluindo hebraico moderno e poesia palestinense) e nos engajar em discussões difíceis sobre o assunto terra e identidade. Os educadores nesse grupo, que eram tanto seculares como religiosos, no lado tanto árabe como judaico, prepararam textos para discussão, cada vez que o grupo se reunia. Depois de estudar os textos num pequeno grupo misto, o grupo inteiro se reunia para uma discussão cuidadosamente facilitada, baseada em assuntos levados pelos textos. Essas discussões eram usualmente de muitas camadas e ricas em opinião pessoal e coletiva para todos os participantes envolvidos. Usando esse método, aprendemos que alguns dos assuntos mais difíceis possam ser discutidos entre palestinenses e judeus com substância e sensibilidade numa tentativa genuína de chagar a ouvir e entender a narrativa do outro. Estamos atualmente editando as apresentações num livro para publicação em árabe e hebraico para o uso em assentamentos educacionais na educação judaica e árabe em Israel.
Diálogos de Mulheres e Ação Social. Durante os três anos passados, começamos um novo programa de diálogo de mulheres com mulheres palestinenses e judaicas de diferentes partes de Israel. O grupo de Jerusalém, que se encontra agora por quatro anos, está atualmente fazendo um livro sobre a sua experiência, para ser compartilhado com organizações de mulheres ao redor do mundo através do Programa de Diálogo de Mulheres da WCRP, a World Conference of Religions for Peace [Conferência Mundial de Religiões para Paz] (o ICCI serve com o capítulo Israel da WCRP). Durante o ano passado, duas novas grupos emergiram, um no centro de Israel na área de Vadi Ara, e outro na Galiléia Inferior. Cada grupo tem a sua própria dinâmica, escolhendo o que queira estudar e discutir. O fato de que esses grupos se reuniam durante a violência em curso dos quatro anos passados, representa um pequeno sinal de esperança para o futuro. Em particular, o fato de que mulheres palestinenses, cristãs e moslêmicas, se encontravam mulheres judaicas israelenses umas nas casas das outras numa atmosfera de confiança e respeito mútuo, muitas vezes em circunstâncias muito difíceis e árduas, e certamente notável. Deve ser dado crédito a diretora, sr.a Sarah Bernstein e à suas coordenadoras palestinenses desses diálogos, sr.a Hanan Abu-Dalu e sr.a Hanadi Younan, pela sua perseverança e dedicação para prover ao foro para mulheres vozes para a construção de paz a serem ouvidas.
Educar um sobre o outro: Durante alguns anos passados, começamos algumas iniciativas educacionais novas para enriquecer o nosso entender um a outro, já que judeus e árabes vivem na mesmo sociedade, tais como um curso novo de treinamento de professores, co-patrocinado pelo Schechter Institute for Judaic Studies (afiliado com o Masorati/Conservative Jewish Movement em Israel) e o ICCI, sobre “Valores Comuns – Fontes Diferentes” nas tradições judaicas, moslins e cristãs. Três anos atrás, quinze educadores judaicos e árabes da área de Jerusalém se reúnem regularmente para um ano inteiro. E neste ano, 2004-2005, planejamos e implementamos um curso novo de treinamento de professores para principais e professores em duas comunidades vizinhas fora de Jerusalém – Mevesseret Zion e Abu Ghosh – sobre o assunto de “Referendo ao Outro na nossa Sociedade – Problemas e Possibilidades”. A idéia atrás do “arranjamento de entrelaçar”. A idéia atrás desse “arranjamento de entrelaçar” é influenciar as comunidades de escola (e não justamente os professores) de se engajar na mudança sistemática no futuro. Esse grupo tem justamente completado o seu curso de treinamento, em março de 2005, e as reações iniciais dos participantes foram muito positivas. Um novo curso será planejado para o ano que vem.
Entender Um o Outro: O Uso de Filme Para Educação de Coexistência. Educadores palestinenses e educadores judaicos, engajados no processo de dois anos de reflexão e análise, que começamos em 2003 como um grupo de foco que se reúne regularmente no American Center em Jerusalém. O grupo visou e analisou filmes israelis e palestinenses, tentando escolher tais que estivessem mais apropriados para a educação de coexistência e para ajudar tanto árabes como judeus a entenderem melhor o modo complexo de tecido de relações entre nós. Durante o segundo ano, 2003-2004, o ICCI planejou e implementou oficinas interativas que nos ajudavam a apontar os assuntos e idéias que chegaram a fazer parte do novo livrinho para educadores no campo de Israel. As oficinas foram ofertadas na Beit HaGefen em Haifa e foram organizadas com a cooperação da Network of Organizations for Jewish-Arab Coexistence in Israel.
Nesse livrinho – que foi agora publicado e está disponível em inglês, hebraico e árabe para educadores em Israel, Palestina e exterior – temos escolhido focalizar em dez filmes. Esses filmes foram escolhidos especialmente para refletir uma variedade de temas e assuntos centrados no tópico de “Entender as Relações entre Judeus e Árabes em Israel” e, ao mesmo tempo, para refletir uma variedade ampla de aproximações e estilos de fazer filme. Procuramos também filmes que seriam apropriados para diferentes audiências, há filmes animados para grupos mais jovens, filmes para jovens, adultos jovens e treinamento de corpo docente. Alguns são mais complexos, e alguns são mais controversal na sua matéria de sujeito.
Esse livrinho (e os filmes descritos nele) está primariamente designado para ser usado por educadores, tanto formais como informais, no campo de relações inter-religiosas e inter-culturais e educação para paz e coexistência em Israel. Educadores de diversas organizações nesse campo crescente, que participaram na nossa oficina de filme no ano passado, compartilharam conosco a sua realimentação (feedback) no que se refere à importância do uso dos filmes como tais no seu trabalho com judeus e árabes em Israel. Filme é uma ferramenta única em prover janela para dentro de entender o outro numa sociedade, onde as pessoas vivem majoritariamente separadas. Esses filmes e os materiais escritos que os acompanham podem enriquecer o processo de aprender que já está em andamento em dúzias de arranjamentos educacionais em setores tanto árabes como judaicos da sociedade israeli.
Esse livrinho pode também ser usado por aqueles que trabalham na diáspora, por aqueles que querem entender as complexidades das relações entre árabes e judeus e por aqueles grupos de diálogo judaico/cristão/moslim que querem discutir assuntos sensitivos de relações árabes-judaicos no Médio Oriente. Alguém não pode adequadamente educar sobre Israel na diáspora – seja em assentamentos educacionais judaicos ou em obras de estrutura inter-religiosa – sem tratar os assuntos levantados por esses filmes de maneira substantiva, significante e séria.
Esse projeto educacional importante foi fundado por iniciativas de The Abraham Fund e pelo Public Affairs Office da embaixada dos Estados Unidos para Israel. Compartilho esses exemplos concretos com vós para vos dar a percepção de que nós no Israel/Palestina fazemos tudo isso – e muito mais – porque cremos que precisamos manter a esperança viva, até em tempos escuros e difíceis, e porque recusamos de nos dar no desespero, isto que é fácil e tentador por vezes, por não fazer nada. De fato, cremos que temos um desafio educacional imenso à frente nos anos vindouros.
Em Direção ao Futuro: O que precisa ser feito
O meu pai, o rábi Leon Kronisch, de bendita memória, que era rábi em Miami Beach, Florida no Templo Beth Sholom [Casa da Paz] durante 54 anos, sempre usava a responder a questão simples “How are you” [Como vais]? Com a resposta tipicamente judaica/israelense: “Yehiyeh tob” [Será bom]; o futuro é melhor que o passado.
Cria profundamente na missão de Israel como o cumprimento da redenção messiânica. E eu faço o mesmo. Obviamente, herdei esse legado dele. Olhando para o futuro, creio que, apesar das dificuldades e obstáculos em curso no processo político – e há muitos – creio que o processo mostrará os seus efeitos: haverá uma solução política, mais cedo ou mais tarde entre Israel e os palestinenses (e entre todos os estados árabes).
Haverá muito provavelmente uma solução de dois estados: Israel e Palestina lado a lado. Essa é a nova realidade que se está desdobrando e que está vindo, embora muito devagar e penoso demais. E então, o que acontecerá? O que faremos em seguida? Seremos preparados para os passos em seguida? O que será preciso no futuro?
O que será preciso é o que chamo de “o outro processo de paz”: o educacional, não o político. Haverá uma necessidade desesperada para campanhas religiosas e educacionais massivas para mudar os corações e mentes das pessoas, em ambos os lados. A região vai precisar um conjunto sério e sistemático de programas que vão educar as próximas gerações para a necessidade existencial de aprender a viver juntos.
Isso não será fácil, nem será rápido. Mas chegará logo a ser o imperativo histórico e educacional da era nova. Não teremos escolha além de juntar as pessoas para aprenderem a viver em paz:
- Rábis, imãs, sacerdotes e pastores, no nível de base, como o estamos fazendo no nosso projeto KEDEM.
- Professores, educadores, diretores de escolas, reitores de colégio, assistentes dos reitores, que desenvolvem currículos e treinadores de professores.
- Líderes de movimentos de juventude, em educadores formais e numa vasta variedade de arranjamentos educacionais informais, tais como centros, institutos, campos comunitários (tais como o campo “Seeds of Peace” [Sementes de Paz], o qual se encontrava cada verão em Maine pelos 10 anos passados, tendo agora centenas de alunos por todo Médio Oriente, inclusive Israel, Palestina e Jordânia), ou o novo programa de campo chamado Face to Face / Faith to Faith [A Face à Face / a Fé à Fé], co-patrocinado por The Auburn Theological Seminary em Nova Iorque, ao qual temos enviado delegações de juventude palestinense e israeli da área de Jerusalém durante os 3 verões passados. Isso levou a todas as espécies de experiências em seguida de volta a Israel com os jovens e os seus pais, e agora crescentemente com as suas comunidades escolares.
- Livros de texto novos, que fazem parar a educação por indoutrinação ideológica, mas via verdade e princípios de reconciliação.
Através de todas essas experiências de diálogo nos anos recentes, cheguei a aprender que há quatro ingredientes maiores que compõem programas de diálogo bem sucedidos:
- O diálogo deve ser pessoal, baseado em formar relacionamentos pessoais reais entre pessoas. Esse é o ingrediente primeiro, que faz o diálogo uma experiência humana genuína, antes de uma teológica ou teórica.
- O diálogo deve envolver aprender sobre valores centrais e as narrativas religioso-nacionais centrais da outra pessoa ou religião do grupo. Fazendo isso, o diálogo inter-religioso envolve muita aprendizagem inter-religiosa, muitas vezes baseada no estudo dos textos chave da outra tradição. De fato, estudo de texto em conjunto chegou a ser parte integral do diálogo inter-religioso no nosso trabalho para construção de paz e reconciliação em Israel e na Palestina.
- O diálogo deve lidar com assuntos centrais do conflito. Freqüentemente demais, o diálogo entre as fés no nosso país e em outras partes do mundo evitou conflito, oferecendo uma visão neutralizada de religião longe da vida real. Aprendemos que, para o diálogo ser transformativo, ele deve lidar com assuntos centrais que enfrentamos no nosso conflito entre israelis e palestinenses, que estão procurando modos de compartilhar a mesma Terra Santa, o que inevitavelmente leva a compromissos penosos em todos os lados.
- O diálogo deve levar a ação. Conversa não é suficiente. Pessoas envolvidas em projetos de diálogo bem sucedidos perceberam a necessidade de transformar as suas palavras em ações. Reconciliação não pode vir somente conversando, deve envolver gestos e atos redentivos e conciliatórios, os quais possam levar a entendimento mútuo e à realidade existencial de coexistência pacífica.
Creio que aqueles de nós que estão ativos no diálogo inter-religioso e intercultural em Israel e na região terão a jogar o papel maior nessa campanha essencial de construir paz pessoa-a-pessoa em longo prazo. Além disso, liderança religiosa e laica de fora será chamada para ajudar apoiar esses processos, se crerem, como eu, no potencial poderoso de paz e nos benefícios grandes que pode trazer a todas as crianças de Deus no Médio Oriente.
Texto inglês
Tradução: Pedro von Werden SJ – Rua Padre Remeter, 108 – Bairro Baú - 78008-150 Cuiabá-MT – BRASIL – pv-werden@uol.com.br.
