
| 30.11.2005
Nostra Aetate com 40 anos
- Nostra Aetate – Um texto conciliar de sucesso - Shimon Stein
- Retrospectiva histórica – O Cristianismo nasceu do Judaísmo
- A Shoáh e seus efeitos no relacionamento judaico-católico
- O caminho a Nostra Aetate e a importância da explicação
- Balanço a Nostra Aetate e desafios para o futuro
- Notas bibliográficas: Veja no fim do texto alemão!
- A Shoáh e seus efeitos no relacionamento judaico-católico
- Uma perspectiva Protestante - Franklin Sherman
Nostra Aetate – Um texto conciliar de sucesso
A linha que a Igreja tem ao Judaísmo 40 anos depois
Shimon Stein, embaixador do Estado de Israel na Alemanha
Discurso na Academia Episcopal da Diocese de Aquisgrano (Aachen, Alemanha)
Eminência, muito estimado Senhor Cardeal Lehmann,
Muito estimado Senhor Dr. Henrix (diretor da Academia),
Estimados presentes:
Olhando para trás ao ano de 2005, houve datas importantes para refletir e exortar: Temos pensado 60 anos desde o fim da guerra e 60 anos desde a Shoáh. Esse ano de comemoração coincidiu com as solenidades na ocasião de início de relações diplomáticas entre Alemanha e Israel. E, não por último, passaram 40 anos desde a Declaração Nostra Aetate, nos quais algo se moveu no diálogo judaico-católico para o futuro.
Na minha contribuição de discurso queria, primeiro, falar daquilo que precedeu Nostra Aetate. A seguir, entrarei na declaração das conseqüências da mesma e, na parte última farei algumas observações aos desafios os quais o diálogo judaico-cristão mantém preparado para o futuro.
No meu discurso queria fazer balanço sincero, pertencendo a isso lados de luz e de sombra, pois na história das nossas relações, lamentavelmente, prepondera ainda a sombra.
Retrospectiva histórica – O Cristianismo nasceu do Judaísmo
Idéias de fé não se deixam restringir às suas conexões metafísicas, mas geravam e geram sistemas de idéias gerais. Assim, religiões não só oferecem modelos de explicação do mundo, mas sim formam processos sociais e psicológicos amplos.
Diariamente de novo, vemos como a história do pensar religioso se mistura com a história da humanidade e, como o correr do tempo nunca vai deixar a história parar, será que deveríamos reconhecer, além do conhecimento das raízes, também reconhecer os seus costumes.
“Como a Cristandade está arraigada no Judaísmo, muitos símbolos e idéias como também conceitos de ambas as religiões se originam duma fonte comum. Paradoxalmente, esse fundamento religioso comum, de fato, representa a maior pedra de tropeço desde o começo da Cristandade…”.1
Nas palavras de Gotthold Ephraim Lessing:
“E não é que toda a Cristandade está construída no Judaísmo?”. Muitas vezes me irritou, me custava bastantes lágrimas, quando cristãos podiam esquecer tanto, que o nosso Senhor era judeu.”2
Um exemplo da proximidade da simbólica queria trazer no que segue:
No 40º dia depois do Natal a Igreja Católica celebra a “Apresentação do Senhor”. Um costume especialmente belo, pois os especiais da Candelária são a bênção de velas e uma procissão. Com isso, os cristãos querem mostrar que Jesus põs o mundo numa luz nova. A sua vida e a sua mensagem brilham na escuridão. O conceito de “Apresentação do Senhor” se baseia no texto bíblico que está sendo lido nas igrejas.
No Judaísmo, era costume ir com o filho primogênito ao templo e oferecer a Deus um holocausto. Assim, também Maria foi, 40 dias depois do nascimento de Jesus ao templo com seu filho. Segundo a Sagrada Escritura, na ocasião, um homem de nome Simeão teria exclamado: Mostras a todos os povos a Tua luz.”3
Tudo isso, nos olhos católicos, está tão perto como estranho.
Estranho, porque Jesus Cristo, para o Judaísmo, não está sendo visto como o filho unigênito de Deus e também não como a segunda pessoa numa Trindade. Porque o Judaísmo não conhece Trindade nenhuma, perseverando na profissão4: ‘Ouve, Israel, o Senhor, nosso Deus, o Senhor é um só!” (Dt 6,4)”, o que o próprio Jesus designou como o mandamento mais distintivo.
Importante para esse relacionamento de tensão, o qual também tangia o auto-entendimento dos cristãos, era a necessidade de chamar o judeu como testemunha constante da veracidade de Jesus, a saber: a hebraica veritas. Por isso, era, de um lado, necessário deixar o judeu viver, de outro lado: eternizar, na sua degradação, a macula permanente da sua assim chamada cegueira de não compreender Jesus como o messias.
Ali, onde em um dos lados estão a KiPóH, o ShOFóR e o rolo da TORóH, se encontra no outro lado o pileolus e a cruz.
Aí, onde o sacerdote católico vê os dez mandamentos como a herança comum e a obrigação comum, o rabino avista os “sete mandamentos dos filhos de Noah como que lei natural, a qual foi entregue em tempos ainda antes de Moisés e, com isso, está sendo considerada como mínimo civilizatório de toda al cultura humana” 5.
Uma questão discutível, penso, era e é: “Como se pode num mundo, em que os judeus precisam carregar tanta pena, afirmar que o messias já veio?”6
A resposta da Cristandade é o crucificado. A sua vinda é um enigma. É um messias sofredor, humilhado. A sua obra de redenção está ainda escondida, a sua história não acabada.
A resposta do Judaísmo é o messias do tempo final, que traz a paz mundial, que põe fim ao ódio de classes e raças.
O contraste até hoje ainda não definitivamente superado na visão da imagem histórica da Cristandade do Judaísmo levou ao estereótipo do judeu e à “doutrina de desdém”, a qual pelos séculos ia formar uma base do sistema educacional da Igreja.
A percepção que já condensava nos inícios da Cristandade de que o povo judaico teria perdido o seu “ser escolhido” pelo não-receber do messias cristão e da “sua participação” na morte dele – levou ao rebaixamento rico em conseqüências dos judeus. E isso, por sua vez, ao que cristãos enfrentavam a perseguição dos judeus em qualquer tempo com indiferença e, em última instância, com distância. Uma co-culpa moral, uma carga da história, a qual muito tempo não, ou muito hesitantemente, foi aceita.
As relações judaicas-cristãs são cunhadas por história de graça e desgraça pelos séculos, e marcadas por fases mais longas de tensão e fase curtas de coexistência, porém, um antijudaismo, mas tarde anti-semitismo passa, como fio vermelho, por essa história de dois mil anos.
Oficialmente “interrompida foi essa tradição somente depois da Shoáh e somente nas Igrejas ocidentais, depois de que alguns cristãos e poucos teólogos perceberam, até que ponto o anti-semitismo cristão era também um encaminhador para o posterior anti-semitismo político e racista.” 7
A Shoáh e seus efeitos no relacionamento judaico-católico
“Colóquio diz contato de vida. Quem, como cristão, se abrir ao contato com pessoas judaicas, experimenta uma outra vida. E entra em contato com uma memória resistente. Esse é uma memória estigmatizada pela Shoáh.” 8
Como sobreviventes ou parentes de vítimas, mulheres e homens judaicos ficam como cercados por aflição, abandono e solidão; pode ser que esquecem ou reprimem, mas continua acontecendo que sofridos ou lembrados os superam. Essa carga se anuncia em cada diálogo cristão-judaico, sendo que, pelo fim da década dos 40, começou a se iniciar forçosamente um processo de arrependimento, especialmente no mundo católico.
Base do exame moral da Igreja Católica é a concepção de que haja um dever obrigatório para o indivíduo de não prejudicar injustamente a ninguém, tentando, enquanto possível, impedir injustiça. O sociólogo americano Daniel Goldhagen escreve nesse contexto:
“A Igreja, portanto, está duplamente obrigada a observar essas conclusões…, porque os seus princípios especiais próprios, sua doutrina reconhece indubitavelmente a retidão desses princípios a aplicação dos mesmos à perseguição eliminatória dos judeus.
Mas a Igreja da década dos trinta e quarenta do século passado não aplicou – e isso está sendo tentado a passar em silêncio até hoje – esses princípios até para dentro das câmeras de gás de Auschwitz…”9
Os judeus não esperavam que a Igreja se voltasse para eles e se empenhasse para sua segurança, porque a Igreja lhes manifestava inequivocada e perceptivelmente inimizade. Na verdade, judeus em angústia extrema se dirigiram a eclesiásticos individuais, e alguns eclesiásticos os ajudaram então de fato.
Além disso, Daniel Goldhagen acha:
“Diferentemente dos judeus, no entanto, os católicos esperavam que a Igreja se ocupasse pelo seu bem-estar moral e psíquico, pois isso é obrigação suma e razão de ser da Igreja. Com cada ação ou omissão, com a qual a Igreja abandonava os judeus, abandonou também os católicos.” 10
Vemos então que não só as vítimas judaicas e os parentes destas tinham e têm o direito a um exame moral da questão de culpa.
Em 1947, o Conselho Internacional de Cristãos e Judeus realizou a sua primeira sessão em Seelisberg na Suíça, na qual o documento com os 10 pontos foi preparado, documento esse que chegou a ser um dos documentos de princípios do diálogo inter-religioso e base na luta contra o anti-semitismo. Contém aplicações detalhadas de como o cristão se deve comportar a respeito dos judeus
O caminho a Nostra Aetate e a importância da explicação
Também se, em caso de dúvida, se devesse dar a preferência à tolerância e devesse examinar os princípios básicos próprios, leigos e padres, historiadores eclesiais e cientistas de política não deveriam poder deixar contemplar cuidadosamente a história do nascer de Nostra Aetate – seja isso de primeira necessidade para poder promover assim o diálogo com mais sentido.
Na década dos 50, o teólogo católico francês Jacques Maritain publicou a sua chamada para uma mudança essencial a respeito dos judeus: “Se houver um povo que em nossos dias tiver direito a uma pátria própria, será esse com certeza o povo judaico.”
Em 1960, o historiador judaico Jules Isaac esteve com o papa João XXIII numa audiência, explicando-lhe a sua tese das raízes cristãs-teológicas do anti-semitismo. O papa estava impressionado pelos argumentos e encarregou ao cardeal Augustin Bea, diretor do Secretariado para a União dos Cristãos formada em 1960, a preparação de um documento que apresente novas linhas para a nova atitude da Igreja Católica ao Judaísmo e seja apresentado ao Conselho Ecumênico.
O documento chegaria a ser assunto central do Concílio Vaticano II, o que, entrementes, Paulo VI dirigia. O documento, que se referia aos judeus, percorreu muitas mudanças – resultado da resistência de correntes anti-semitas na Igreja e, principalmente, por causa do receio de muitos bispos nas comunidades católicas nos países árabes e moslins.
Assim, foi finalmente aceito, em 28.10.1965, um documento restrito. Mesmo assim, era ainda um documento de grande importância, o qual apresentava uma mudança nas relações da Igreja Católica ao povo judaico, aplanando, não por último 1992 (!) o caminho para o reconhecimento do Estado de Israel pelo Vaticano e para iniciar relacionamentos diplomáticos plenos.
Essas mudanças ricas em conseqüências e novos começos da Igreja Católica tinham a sua origem, não por último, nas fontes espirituais da teologia de Israel de Karol Wojtyla. Diferentemente do que nos seus predecessores em Roma, essa teologia não nasceu só no ofício, mas as concepções de João Paulo II foram cunhadas por catolicismo pré-guerra e o tempo nazista em Wadowice na proximidade de Auschwitz e Cracóvia.
Ele fez o capítulo 4 de Nostra Aetate, o qual se refere à relação da Igreja ao povo judaico, um assunto central do seu ofício papal. Os seus empenhos foram mundialmente co-carregados de muitos cardeais e não poucos bispos da Igreja Católica.
No seu livro “Atravessar o limiar da esperança” escreve, em vista à declaração Nostra Aetate do Concílio Vaticano Segundo de 1965:
“No fundo das palavras da declaração do Concílio está a experiência de muita gente, tanto judeus como cristãos, e a minha experiência pessoal dos primeiros anos da minha vida na minha cidade de nascimento”.
Lembro-me da minha classe de escola, onde pelo menos um quarto dos alunos eram judeus. Tenho também sempre diante os meus olhos a imagem de como eles foram cada sábado à sinagoga atrás do nosso ginásio… Ambos os grupos religiosos, católicos e judeus, formam uma unidade, e isso, suponho, porque estávamos conscientes de adorar o mesmo Deus. A seguir, veio Segundo Guerra Mundial com os campos de concentração e a destruição planejada de pessoas humanas. Como primeiros, os filhos e filhas do grupo popular judaico tinham de sofrer disso, e precisamente por serem judeus. Qualquer um que morava na Polônia naquele tempo entrou em contato com esse fato. Isso era, portanto, também a minha experiência pessoal, uma experiência que ainda hoje carrego dentro de mim.” 11
Nostra Aetate confirma que a Igreja não pode esquecer que recebeu a revelação da Aliança antiga por meio daquele povo com que Deus concluiu a Aliança antiga. O teor da declaração cita as palavras de Paulo: “Deus não revoga nenhuma dos dons que concedeu, nem a escolha que fez.”
A declaração do Concílio Vaticano II tem significado central, não só por seu conteúdo, mas também porque a declaração, na Igreja Católica, levou a uma linguagem nova da discussão e do diálogo. Até 1962, os inícios do Concílio Vaticano II, o conceito teológico, por meio do qual a Cristandade se referia ao Judaísmo a “teologia de deserdação”. A promissão divina de reunir os dispersados de Israel, ao povo judaico, perdera nos olhos da Igreja a sua validade, e a Igreja se designava a si mesma como “verus Israel” [Israel verdadeiro].
Tudo isso mudou com a aceitação de Nostra Aetate, a aliança continua de pé, daí especialmente também a promissão a ERètS YiSRò`ÊL [Terra Israel], e, com esses conteúdos, se mudou também escrito e linguagem da Igreja cristã a respeito da fé judaica, virando-se do negativo ao positivo. Assim a Comissão Vaticana para Relações Religiosas ao Judaísmo, na sua declaração “Orientações para uma Apresentação Correta de Judeus e Judaísmo na Pregação e Catequese da Igreja Católica” do junho de 1985, formulou assim: “Jesus era e ficou sempre judeu… Jesus era completa e inteiramente pessoa humana do seu tempo e do seu meio judaico do 1º século.”11
Um exemplo para as mudanças positivas que acabam ser mencionadas é João Paulo II, que esse voltar a lembrança reclamou em inúmeras pregações e alocuções – contrário a comportamento errado de séculos – como a sua confissão de culpa proferida em alocuções comoventes, proferidas em março de 2000 em Israel.
Geralmente são motivações de teologia bíblica, na qual a teologia de Israel da personalidade carismática, sem par, se apóia. Com certeza, porém, está par presumir também aqui a influência cunhadora das suas circunstâncias de vida.
“Antes dele chefe nenhum de Igreja precisava trabalhar na fábrica contra vontade ou se experimentava no subsolo como ator, antes dele, nenhum papa cresceu com amigos de escola judaicos.” 13Quando João Paulo II depositou uma oração no Muro de Lamentações em Jerusalém no ano de 2000, pediu perdão por injustiça cristã nos judeus. E quando visitou uma sinagoga pela primeira vez, iniciou, com isso, o fim do antijudaísmo eclesial.
O papa Benedito XVI está para uma continuação dessa política, de reconhecer a pena dos judeus.
“Um fator, que o tem, como alemão, igualmente co-cunhado, é a experiência do nacional-socialismo, o demônio duma sociedade separada de Deus, puramente ideológica e orientada a poder e violência. Na pele ele teria experimentado, conta, que mera garantia constitucional não vale nada, se não houver pessoas que a carregam por convicção interna’.” 14
Como segundo papa na história da Igreja, Benedito XVI visitou, no agosto deste ano, uma sinagoga, enfatizando em Köln [Colônia, Alemanha]: “Patriarca Abraão seria para judeus e cristãos o ‘’pai da fé’. Portanto valeria também: Quem encontrar Jesus Cristo, encontrará o Judaísmo.” 15 Penetrantemente, enfatizou a sua vontade para um diálogo sincero e confiado entre judeus e cristãos.
Além disso, constatou: Muito, no entanto, fica para ser feito ainda. Precisamo-nos ainda muito mais e muito melhor conhecer uns aos outros. … Sinceramente, não se pode tratar, nesse diálogo, de passar por cima das divergências existentes ou as diminuir. Também exatamente naquilo que nos distingue uns dos outros na base da nossa convicção mais profunda de fé, precisamo-nos respeitar e amar uns aos outros.”16
Balanço a Nostra Aetate e desafios para o futuro
Minhas Senhoras e Senhores,
“Religião está sendo, freqüentemente, apresentada como algo estático, rígido. Isso não é assim de modo algum. A história de religião da Moderna, porém, apresenta, já desde bem 250 anos, uma dinâmica de mudança extremamente alta. Assim como a vida em geral mudou, também religião e piedade ganharam reiteradamente forma nova”.
Fases de redução defrontavam épocas, nas quais religião voltou a ganhar rapidamente significado cultural alto. A crença representada por cientistas sociais de que pela cientificação moderna do mundo a religião desapareceria foi multiplicamente refutada por desenvolvimentos dos últimos decênios.” 17
O rabino David Rosen, presidente do Comitê Judaico Internacional para Consultas Inter-religiosas e observador do diálogo judaico-cristão relata:
“Exatamente os efeitos de Nostra Aetate a sociedades católicas ou a falta em efeitos expõem de modo drástico em que medida a teologia e sociologia são ligadas uma a outra”.Onde comunidades católicas e judaicas pulsantes vivem lado a lado, lidando uns com os outros, uma interiorização de Nostra Aetate é imponente. Os EUA, naturalmente, são o exemplo por excelência. Levantamentos mostram o grau positivo em que, especialmente católicos jovens interiozaram a revolução, a qual Nostra Aetate tem introduzido, encontrando-se em ‘sintonia’ com ela e os ensinos do Magistério.” 18
A isso contam as guias do Vaticano de 1975, as quais a declaração já mencionada de 1985, as declarações de Paulo VI e de João Paulo II, bem como também as conferencias episcopais.
No que segue, me queria novamente remeter ao rabino David Rosem que acabo de mencionar – uma voz, a qual talvez não é a voz representativa. David Rosen, no entanto, se arranjou com o diálogo judaico-cristão: sim, ele lhe liegt am Hersen [jaz no coração]. Adquiriu, na aproximação de ambos os nossos lados, grandes méritos. Portanto, a sua crítica merece aqui ser ouvida. Chega à verificação:
“É, porém fato que Nostra Aetate e os ensinamentos seguintes não fazem parte inerente da formação de todos os padres católicos, o que pode ser designado como o insucesso maior e mais agravante na interiorização de Nostra Aetate na vida de Igreja. Vai demorar algum tempo até o magistério amadurecer a uma parte natural da consciência católica. Mais além, no tempo recente até correm vozes que aspiram a diminuir a importância da declaração, porque ela teria somente importância para a cura das almas, mas nenhuma para as teses de ensino. Tais vozes conseguem atenção, entre outros, entre cristãos no Próximo Oriente, os quais, sob esse aspecto, estão obviamente sendo influenciados da sua situação social-política própria.” 19
Nostra Aetate também ainda não chegou aos países do terceiro mundo e às comunidades distantes. Com toda a certeza, não ‘alcançou’ até hoje os estados moslêmicos, nos quais existe uma minoria católica, e, com certeza, não os estados árabes.
Pergunta aberta, porém, é até que ponto a Igreja Católica conseguiu levar a mensagem de Nostra Aetate de cima para baixo, à base? Até que ponto o interesse do Vaticano de realizar trabalho de esclarecimento na base da Igreja Católica faz parte da sua agenda do futuro?
Preconceitos e estereótipos que têm raízes religiosas nos perseguem nós judeus como dantes, até nos dão motivo para preocupação. A lacuna que acabo por mencionar me parecem ser uma tarefa séria para Nostra Aetate e a visão de João XXIII. Essa visão foi desenvolvida impressionantemente por João Paulo II, e penso que possamos confiar que o papa Benedito XVI vá fazer uma contribuição igualmente radical a ela.
No que segue, queria citar uma indicação do rabino Rosen, que chegou à conclusão de que, na transposição do espírito de Nostra Aetate, se precisa de mais esforços. Diz:
No entanto, a contribuição pessoal do papa, obviamente, não é suficiente. É como dantes um desafio decisivo proporcionar vigência ulterior e abrangente a Nostra Aetate e aos ensinamentos seguintes dentro da estrutura da Igreja.” 20
A tarefa de Nostra Aetate consistia, antes de tudo, na melhora dos relacionamentos religiosos, no diálogo e no reconhecimento fundamental. Daí queríamos, nesse balanço interino, dar expressão a nossa esperança de que a Igreja Católica corresponda ao seu papel nesse respeito como instituição social fundamental.
Minhas senhoras e senhores,
a iniciação de relações plenas entre a Santa Sé e o Estado de Israel era naturalmente muito mais que um acontecimento diplomático de espécie secular. Essa iniciação pode ser descrita como ponto culminante da mudança enorme, a qual se deu em geral na atitude e concepção da Igreja cristã em relação ao povo judaico. No contrato fundamental assinado em 1993, a vontade para a reconciliação histórica e para o entendimento mútuo de católicos e judeus foi segurada.
Com isso, cresce também uma expectativa cristã ao povo judaico. O papa João Paulo II a mencionou várias vezes na sua viagem a Israel. Na cerimônia de acolhimento no aeroporto de Tel Aviv, aplicou a necessidade de paz à relação católica-judaica:
“Com abertura neo-encontrada, ambas as partes devem fazer esforços para superar preconceitos. Precisamos aspirar sempre e por toda a parte a mostrar a face verdadeira do Judaísmo e também da Cristandade, e isso em todos os níveis da mentalidade, de doutrina e da comunicação.” 21
Para mim a questão de como cristãos e judeus vivem uns com os outros, não somente como se entendem, mas sim sobre o que eles se entendem é uma das questões essenciais para os decênios que jazem diante de nós. No nosso tempo, cristãos e judeus estão incluídos num processo do encontro e do diálogo. Ambos os lados são cunhadas, não só de experiências diferentes, mas ligam a isso também expectativas diferentes.
Na base existe, segundo a avaliação do “Conselho de Coordenação Alemã para Cooperação Cristão-Judaica” um interesse ativo para aprender mais sobre vida judaica, e com um diálogo, o qual se move cada vez mais dos muros eclesiais-sinagogais para interessar círculos novos, está posto um sinal do tempo. Outras formas de encontro, menos carregadas de recurso quanto orientadas de vivência, estão sendo oferecidas, assim que o trabalho judaico-cristão se enrede mais com assuntos do movimento ecumênico como justiça, paz e preservação da criação e trabalha os assuntos Israel e anti-semitismo.
“Fosse a Cristandade alienada das suas raízes judaicas, disso os cristãos chegaram a serem conscientes, ela estaria sendo roubada de uma dimensão fundamental da sua identidade. Convencidos de que não é possível para cristãos empreenderem um processo de neo-avaliação e recuperação sem alcançar um entendimento mais profundo da religião, cultura e história, procuravam o encontro e o diálogo com os judeus.” 22
Os judeus consentiam nesse diálogo, porque este pode contribuir para decompor preconceitos e criar clima do respeito mútuo e da cooperação.
Sem dúvida, o diálogo judaico-cristão alcançou hoje um nível com o qual podemos ficar contentes. Uma contribuição essencial a isso deram o Conselho Internacional de Cristãos e Judeus (ICCJ = International Council of Christians and Jews) e, na Alemanha, as sociedades para cooperação cristã-judaica, as quais exercem um função social importante. Já antes de Nostra Aetate tiravam as lições certas da Shoáh e, depois da Segunda Guerra Mundial, se posto o fim de fazer uma ponte entre a Alemanha e os judeus sobre o abismo da história. Uma ponte que serve para criar entendimento, para afirmar o direito de Israel a existir e a combater o anti-semitismo. Desde 1950 executa a semana da fraternidade. Através dos anos, a Sociedade, pelo seu engajamento, ganhou em atenção pública.
Fico alegre, naturalmente, sobre o diálogo entre judeus e cristãos em Israel. Assim, no início do novembro haverá em Jerusalém uma conferência internacional a Nostra Aetate. O Estado de Israel vai realizar durante todo o ano do 40º jubileu (2005), com a ajuda das suas embaixadas e consulados, mundialmente dúzias de atos em cooperação com as conferências dos bispos, dos cardeais locais, do núncio e, naturalmente das comunidades judaicas, para lembrar, para aprender e par promover o entendimento e a reconciliação inter-religiosa, da qual Nostra Aetate forma uma pedra angular.
O diálogo judaico-cristão tem o fim de intervir no nosso mundo por paz e justiça. O conselho Internacional dos Cristãos e Judeus chega, num papel de 1993, ao pronunciamento de que a Europa era um sinal de alerta, um instrumento sério de alerta.
Minhas Senhoras e Senhores, com apreensão nós judeus observamos o aumento o aumento de fenômenos anti-semíticos na Europa. O colapso do sistema comunista e a assim chamada crise de valores no mundo ocidental levaram a que preconceitos velhos recebessem alimentação nova. A isso se acrescenta que as testemunhas, vítimas como perpetradores, estão desaparecendo e, por isso, há muita gente que pensa em poder pôr o assunto no arquivo e, antes de tudo, exilar da memória pública. E contra isso se trata de agir contra. A Alemanha é obrigada também a continuar a lutar contra esse fenômeno, tanto mais quanto levou a reivindicação de que vida judaica no seu solo seria outra vez possível.
Num tempo da islamização radical, à qual a Igreja não se pronuncia, temos também de haver com uma intolerância, a qual se origina de preconceitos religiosamente fundamentados. Chamamos para um diálogo sério entre as religiões, querendo contribuir a esse diálogo a nossa disposição para razão e tolerância.
O Estado de Israel joga, a respeito da identidade judaica hodierna, um papel significativo. A afinidade entre o povo judaico e ERètS YiSRò`ÊL existe, caso se quiser assim, dos dias de Abraão, e existia também durante os dois mil anos da Diáspora. O judeu sempre orava pelo que o seu país e a capital deste, Jerusalém, voltassem. Em tempo mais recente podemos observar como o peso demográfico do povo judaico da diáspora se desloca para dentro do Estado de Israel, mais que a metade dos judeus já se encontra em Israel, e esperamos que esse desenvolvimento continue. Na base da iniciação de relacionamentos diplomáticos entre a Santa Sé e o Estado de Israel, muitos impedimentos do diálogo foram tirados do caminho. É fato que a declaração de Nostra Aetate está sendo mencionada no contrato fundamental entre Israel e a Santa Sé, trazendo, como isso, a prova de que a declaração tem significado para além do aspecto inter-religioso. Liberando o povo judaico da culpa na morte de Jesus, também foi tirado dele a pena de precisar perambular sem descanso pelo mundo e de não ter permissão de realizar as suas ânsias como ser político coletivo.
Os relacionamentos judaicos-católicos culminaram na visita, já mencionada por mim, do papa, o qual deixou chegar a ser claro o progresso dos relacionamentos católicos-judaicos, manejando além disso as agulhas para o desenvolvimento futuro do nosso diálogo. Não por último as muitas recepções de estado conscientizavam muita gente de que o papa é um amigo verdadeiro do povo judaico, reconhece e respeita a pátria dos judeus.
Dos seus encontros com os rabinos mais altos resultou a instituição de um comitê permanente do rabinato supremo para o diálogo com a Santa Sé, o que era o primeiro comitê desse gênero, não representando isso um passo nada fácil para o rabinato supremo. Nisso é preciso saber que de um lado a deficiência em formação secular e, de outro, os preceitos teológicos dificultaram a decisão. A instituição do comitê é tanto mais agradável, quanto as guias do rabinato supremo israelense mandam na ortodoxia mundial.
Além disso, podemos constatar que a aceitação das mudanças no relacionamento judaico-católico e a abertura para essas se realizam diferentemente nas comunidades judaicas diversas. Aqui podemos registrar os melhores resultados nos EUA, onde se pode falar até de uma parceria, como relata David Rosen.
Ainda relata: “Enquanto o número de cristãos árabes na região de Jerusalém e Belém diminuiu substancialmente, o número de cristãos árabes na Galiléia ficou estável. Além disso, se registrou, na década última, uma afluência de cristãos como fundo preponderantemente pravoslávico da antiga União Soviética, os quais, na base das leis de retorno, chegaram a ser cidadãos do Estado de Israel. … Essa presença, naturalmente, melhorou a situação demográfica dos cristãos na Terra Santa. Disso resulta também um desafio novo para o encontro com uma comunidade cristã importante, a qual se considera como parte essencial da instituição política judaica – um fenômeno que, desde o começo da Cristandade, ainda não havia deste modo.” 23
Sem dúvida, os acontecimentos em Israel têm efeitos aos relacionamentos entre judeus e cristãos mundialmente. Portanto, uma solução pacífica do conflito israelense-palestinense teria um efeito positivo também a esses relacionamentos. Esperamos que também o lado palestinense chegue a esse entendimento.
Minhas Senhoras e Senhores – e com isso queria chegar ao fim do meu discurso – encostar satisfeitos não nos podemos, muito fica ainda a fazer. Nostra Aetate é para mim pedra miliária num caminho que falta ainda muito para estar no fim. Com essa declaração e dos passos que a seguiam foi alcançado uma brecha no relacionamento católico-judaico, uma brecha, a qual pode conduzir a coordenadas novas.
Muito agradecimento!
Notas bibliográficas: Veja no fim do texto alemão!
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Uma perspectiva Protestante
Franklin Sherman
Nostra Aetate é documento epocal também de perspectiva protestante. Em parte, isso é devido ao fato de que as relações entre protestantes e católicos, bem como entre cristãos e judeus, melhoraram durante esses quarenta anos passados (apesar de alguns revezes em ambas as frontes). Isso criou um senso de história compartilhada, pelo que aquilo que foi alcançado pelo Vaticano II no seu esforço de superar milênios de inimizade cristã contra os judeus está sendo considerado uma realização a respeito da Cristandade como um todo. Em parte, isso se deve ao fato de que Nostra Aetate servia de inspiração para as Igrejas protestantes para habilitarem as suas próprias declarações de natureza similar. Se até a Igreja Romano-Católica, que se considera a si mesma como guardiã de verdade constante, pode admitir o seu erro no apoiar o “ensino de desdém” por tantos séculos – assim o argumento implícito ia – certamente as Igrejas protestantes não deveriam fazer menos.
Devemos estar claros, no entanto, que havia esforços significantes para esse fim antes do Vaticano II. Cientistas como James Parkes na Inglaterra e A. Roy Eckardt nos Estados Unidos tomaram a dianteira já nas décadas dos 1930 e 1940, expondo a cumplicidade cristã no anti-semitismo:
Christopher Leighton:
É difícil lembrar o tempo quando não sabíamos que houvesse um chão novo a quebrar. Nós cristãos ficamos muito tempo esquecidos do legado do antijudaísmo cristã, e cegos para os desafios teológicos de nos engajar criativamente na tradição judaica. O imperativo de desenvolver uma aptidão crítica que nos capacitasse a ver a nós mesmos pelos olhos do outro emergiu com a erudição corajosa de poucos preciosos e, lamentavelmente, dois deles morreram nessa primavera passada.
Os Dr.s Roy Eckardt e Paul van Buren eram membros do original Grupo de Cientistas Cristãos sobre Judaísmo e o Povo Judaico, o primeiro tanque cristão de pensar nas relações durante os vinte-e-cinco anos, agora patrocinado pelo ICJS. Ambos eram profundamente cometidos com as suas respectivas comunidades cristãs, vendo a sua erudição primeira e primariamente no serviço da Igreja. Roy estudou extensivamente com H. Richard Niebuhr e James Parkes. Elke e a sua esposa talentosa, Alice, progrediam para serem professores proeminentes na Lehigh University e mais recentemente em Oxford. Depois dos seus estudos na Havard, Paul procurou o seu doutorado com Karl Barth em Basiléia, antes de assumir responsabilidades acadêmicas na Temple University e, depois, em Heidelberg e no Shalom Hartman Institute em Jerusalém. Ambos publicaram extensivamente, e os seus escritos são agora bases para qualquer um que ousar considerar o impacto das relações cristãs-judaicas na teologia contemporânea.
Embora a profundeza do seu cometimento e o rigor da sua erudição refletisse os seus débitos aos seus professores, prepararam terreno teológico novo que, graças a eles, tomamos agora como assentado. Dependemos grandemente das suas realizações. As formulações teológicas se possam provar como provisórias, porque o seu pensar estava passando por revisão constante em direção ao fim. Todavia, as questões que formaram fornecem um desafio inescapável à comunidade cristã. As suas vozes nos continuam lembrando: o caráter ético da vida cristã – não só como cristãos se tratam uns aos outros, mas como embutem o povo judaico – vai revelar a adequação das respostas teológicas das Igrejas. A tarefa é avançar a sua ousadia em modos que tornem os cristãos e os judeus mais fieis ao melhor dentro e entre as suas respectivas tradições.
Para as Igrejas européias, o choque do Holocausto, que tomara lugar no seu próprio solo, era que motivou a mudança. Assim, os famosos “Dez Pontos de Seelisburg”, editados por uma conferência internacional na Suíça já em 1947, rejeitaram “qualquer apresentação e concepção da mensagem cristã que apoiasse anti-semitismo sob forma qualquer”:
Lembra que Um Único Deus nos fala pelos Testamentos Antigo e Novo!
Lembra que Jesus nasceu de mãe judia da semente de Davi e do povo de Israel e que o Seu amor e perdão permanentes abraçam o Seu povo próprio e o mundo inteiro!
Lembra que os primeiros discípulos, os apóstolos e os primeiros mártires eram judeus!
Lembra que o mandamento fundamental a Cristandade, de amar a Deus e ao próximo, proclamado já no Antigo Testamento e confirmados por Jesus, é obrigatório para tanto cristãos quanto judeus em todos s relacionamentos humanos, sem exceção.
Evita deformar ou representar mal o Judaísmo pós-bíblico com o objetivo de exaltar a Cristandade.
Evita usar a palavra judeu no sentido exclusivo de inimigos de Jesus, e as palavras ‘os inimigos de Jesus’ para designar o povo judaico inteiro.
Evita apresentar a Paixão dum modo tal como para levar o ódio de matar Jesus acima de todos os judeus ou sobre os judeus somente. Era somente uma seção dos judeus em Jerusalém que exigiam a morte de Jesus, tendo sido a mensagem cristã sempre, que eram os pecados da humanidade que estavam exemplificados por aqueles judeus e os pecados nos quais todos compartilham que levaram Jesus à cruz.
Evita se referir às maldições escriturais, ou o grito de turba: Sua sangue sobre nós e nossas crianças”! sem se lembrar que esse grito não deve contar contra as palavras infinitamente mais pesando do nosso Senhor: “Pai, os perdoa, pois não sabem o que estão fazendo!”
Evita promover a noção supersticiosa de que o povo judaico esteja reprovado, amaldiçoado, reservado para o destino de sofrer!
Evita falar dois judeus como se os primeiros membros da Igreja não teriam sido judeus.
A declaração expõe alguns princípios enganosamente simples, mas muito potentes, tais como “Lembra que Um Único Deus nos fala por todo o Antigo e o Novo Testamentos!”, “Lembra-te que Jesus nasceu duma mãe judia da semente de Davi e do povo de Israel!”, “Lembra-te que os primeiros discípulos, os apóstolos e os primeiros mártires eram judeus!” e, significativamente, “Evita apresentar a Paixão num modo tal como trazendo o ódio de matar Jesus sobre todos os judeus ou sobre judeus somente!”
O Conselho Mundial de Igrejas, na sua assembléia fundadora em Amsterdã em 1948, declarou: “Exortamos todas as Igrejas que representamos a denunciarem o anti-semitismo, seja qual for a sua origem, com absolutamente irreconciliável com a profissão e prática da fé cristã. O anti-semitismo é pecado contra Deus e pessoa humana.” A isso, a terceira assembléia do Conselho (Nova Déli 1961) acrescentou a admonição: “No ensino cristão, os eventos históricos que levaram à Crucificação, não devem ser apresentados assim que imponham sobre o povo judaico de hoje responsabilidades que devem cair sobre toda a humanidade, não sobre uma raça ou comunidade única. Judeus eram os primeiros que aceitaram Jesus, e judeus não são os únicos que ainda não o reconhecem.” Semelhantemente, em outubro de 1964 – exatamente um ano antes de Nostra Aetate – o House of Bishops da Igreja Episcopal (EUA) declarou que “anti-semitismo é contradição direta à doutrina cristã”. “A acusação de deicídio contra os judeus”, os bispos episcopais declaram, “é mal-entendido trágico da significância interna da crucificação”.
Assim, o despertar protestante e anglicano para esses assuntos não dependia inicialmente do exemplo Romano-Católico, mas este, de fato, os espora a continuar e intensificar a sua obra ao longo dessas linhas. Grande número de declarações seguiu, como a da Igreja Metodista de 1972 “Ponte em Esperança: Diálogo Inter-religioso entre Judeus e Cristãos”, e o seu pôr em dia de 1996 Building Newe Bridges in Hopo [Construir Pontes Novas em Esperança]. O sínodo geral de 1987 da United Church of Christ afirmou o seu reconhecimento de que “a aliança de Deus com o povo judaico não foi rescindida ou ab-rogada por Deus, mas permanece em vigor pleno”. O papel de estudo da Presbyterian Church (EUA) renunciou igualmente à idéia de que os cristãos tivessem substituído os judeus como “o povo de Deus” – um ponto que se referia a presbiterianos terem recentemente tido razão de re-enfatizar protestando alguns esforços locais de evangelizar judeus.
Na minha própria denominação, a Igreja Luterana Evangelical na América, o desenvolvimento mais notável dessa natureza era a “Declaração da Igreja Luterana Evangelical na América à Comunidade Judaica”. No que era provavelmente a primeira vez que um corpo luterano oficial alguma vez renunciou um ensino de Martinho Lutero, a ELCA (Evangelical Lutheran Church in America) repudiou decisivamente as visões antijudaicas expressadas em vários dos seus tratados. “Rejeitamos essa invectiva violenta”, a declaração afirma, “e ainda mais expressamos o nosso pesar profundo e permanente pelos seus efeitos trágicos nas gerações subseqüentes. … Reconhecemos no anti-semitismo contradição e afronto ao Evangelho, violação da nossa esperança e vocação, e comprometemos essa Igreja a se opor ao efeito mortífero de fanatismo tal, tanto dentro dos nossos próprios círculos quanto na sociedade ao nosso redor.” Olhando para frente, a declaração afirma “ o nosso desejo urgente de viver a partir da nossa fé em Jesus Cristo com amor e respeito pelo povo judaico”.
Os protestantes, então, se juntam à celebração do 40o aniversário de Nostra Aetate, vendo-a como parte da nossa própria história. Notamos, ainda, que essa declaração breve não está sozinha, mas sim foi seguida por outros documentos de ensino importantes, tanto do Vaticano como da Conferência dos Bispos Católicos dos EUA, notavelmente a sua publicação de 1988 God’s Mercy Endures Forever. Guidelines on the Presentation of Jews and Judaisme in Catholic Preaching [A Graça de Deus dura para Sempre. Diretrizes sobre a Apresentação de Judeus e Judaísmo na Pregação Católica]. Disso aprendemos que a mera emissão duma declaração, por mais que oficial, não é suficiente; tem de ser seguida por um processo de educação e inculturação no novo ponto de vista. Aprendemos também, dos desenvolvimentos romano-católicos subseqüentes, que avanços, marcados por até tais documentos históricos como Nostra Aetate, possam ser arrojadas em questão por tendências regressivas. Enquanto isso acontecer ou ameaçar a acontecer, nos juntamos em preocupação profunda e no nosso desejo de fazer causa comum no defender – e mais que isso: estender – os grandes alcançados cristãos-judaicos na re-aproximação e no diálogo no nosso tempo.
Texto alemão
Texto inglês
Tradução:
Pedro von Werden SJ – Rua Padre Remeter, 108 – Bairro Baú - 78008-150 Cuiabá-MT – BRASIL – pv-werden@uol.com.br
